Luís Represas na Póvoa de Varzim

O Arco Íris não me faz medo
se no fundo houver um pote em segredo
que guarde a história dos homens
e esconda a história da vida
dos olhos dos predadores

Uma tempestade não me faz medo
Se no ar houver uma força em segredo
que anime a história dos homens
e guarde a história da vida
dos olhos dos predadores

O mar revolto não me faz medo
se a água não revela segredos
e benze a história dos homens
e lava a história da vida
dos olhos dos predadores

O vento norte não me faz medo
se a brisa sul disser em segredo
- eu amo a história dos homens
e turvo a história da vida
nos olhos dos predadores

A Lua Nova não me faz medo
se lá viver um Velho em segredo
que oculte a história dos homens
e esconda a história da vida
dos olhos dos predadores

A selva inteira não me faz medo
enquanto houver uma árvore em segredo
que aqueça a história dos homens
e feche a história da vida
á estrada dos predadores

Os elementos que gritem
e a matéria se revolte
e quem mais puder que ajude
a dar novo brilho ao sol

Enquanto foi só um bom momento deu
Enquanto foi só um pensamento meu
Deus, deu só num caso forte a mais.

Enquanto se achava graça ao que se escondeu
E a horas eram mais longas do que a verdade
Fez p'ra ser só outro caso mais.

Enquanto for só ternura de Verão
Eu vou,
Enquanto a excitação der para um carinho
Eu dou.
Traz
Uma leveza
Ah, mas concerteza
Eu dou
Um outro melhor bom dia.

Já trocámos nortadas por vento sul
Enquanto demos risadas foi-se o azul
Nem sei qual deles foi azul demais.

Mas não ficará só a sensação de cor
Nem sei o que o coração irá dizer de cor
Se o Inverno for, depois, duro demais.

Não vejo ninguem nas estradas
Os campos desertos de gente
No mar já quase não se vê água
No céu o ar morre de quente

Deixamos que o nada viesse
Do nada que tinhamos dentro
Quisemos ser donos de tudo
Fechamos as portas ao vento

E se já não formos nós,
Porque o tempo não deixou,
A fazer, o que a ser feito,
Nos unisse pelo amor,
Uma prece aqui deixamos
No peito dos nossos filhos
Sejam bem melhores que nós
E perdoem por favor

A esperança caiu da montanha
De vidas há muito esquecidas
O amor queimou-se nas fogueiras
Que ardem por terras prometidas

Não queremos ver o fim da estrada
Adivinhar o fim da vida
Nascemos a troco de nada
Não queremos dá-la por vencida

Lembras-me uma marcha de Lisboa
Num desfile singular,
Quem disse
Que há horas e momentos p'ra se amar

Lembras-me uma enchente de maré
Com uma calma matinal
Quem foi
quem disse
Que o mar dos olhos também sabe a sal

As memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar

Queria viver tudo numa noite
sem perder a procurar
O tempo, ou o espaço
Que é indiferente p'ra poder sonhar

Quem foi que provocou vontades
e atiçou as tempestades
e amarrou o barco ao cais
Quem foi, que matou o desejo
E arrancou o lábio ao beijo
E amainou os vendavais

Luz sai da frincha, é manhã
Sei que o dia já desarvora
Chave dos sonhos na mão
Olho-te e vais embora

Sais pela rua velo
Sinto a brisa do teu corpo perto
Chave dos sonhos guardei
No quarto já deserto

Passei a noite em claro
Passei p´la noite em ti
E abri com a chave dos sonhos
A porta e a varanda que em sonhos abri

São mais confusas agora
As imagens que em ti eu tocava
Eram do sonho ou de olhar
O que o prazer mostrava?

Chave dos sonhos na mão
Entrarei em qualquer fechadura
P´ra lá da porta, o melhor
É sempre da aventura

Guardo com a chave dos sonhos
Segredos que o corpo merece
Se alguém não quis arriscar
Então que o não tivesse

Ontem arriscaste mais
Do que uma simples coisa exigia
Deste-me a chave dos sonhos
O caos e a harmonia

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