E agora invadimos o quê?


No seu novo filme "E agora invadimos o quê?", Michael Moore "invade" países com o objectivo de ver o que estes fazem de bom e exportar essas ideias para os EUA.
Começa por Itália. Logo nos minutos iniciais não deixa de ser impressionante verificar que no mundo globalizado de hoje ainda nos conhecemos tão pouco uns aos outros e sabemos tão pouco para lá do que existe no nosso quintal. E facilmente se houve uns a dizer "Claro!" e outros a responder "Como assim, claro?!" Logo ali fica provado que o mundo não é todo igual, mas mais do que isso, ao nos centrarmos na nossa realidade, desconhecendo a do outro, ignoramos que existem ou possam existir outras, e dizemos "claro!" como se as coisas não pudessem ser de outra maneira.
Outro país "invadido" foi a Finlândia. Vem mesmo a propósito da actual discussão em Portugal sobre o financiamento do Estado a colégios privados.
Na Finlândia quase todas as escolas são públicas. Todas as escolas são boas. Não há rankings, não há escolas melhores ou piores. Se alguém mudar de terra não se preocupa em saber qual a melhor escola, simplesmente coloca os filhos na escola pública mais perto de casa, porque elas são todas iguais. Ora, se todas as escolas são iguais, as classes mais ricas vão querer que todas as escolas sejam boas, e é isso que acaba por acontecer.
Em "França" invadiu o melhor restaurante de uma pequena vila: a cantina da escola. Só visto! Sentam-se à volta de uma mesa redonda, servem-se uns aos outros, comem comida saudável, bebem água... Michael Moore perguntou se algum deles bebia Coca-Cola, todos responderam que não. Perguntou se queriam provar, só uma criança aceitou. Gostou, mas imediatamente a sua mão começa a bater com o garfo no prato de forma super agitada.
Portugal também foi "invadido". Ouve-se cantar a "Internacional" num comício da CGTP no 1º de Maio, mas a ideia que veio cá "roubar" foi a da despenalização do consumo de drogas, e como isso levou ao menor consumo das mesmas, e a menos prisões. Impressionante saber que nos EUA os presos não podem votar, nem depois de saírem das prisões. Prendendo classes desfavorecidas, negros por consumo de drogas, etc... e impedindo-os de votar, estão no fundo a torná-los escravos, sem qualquer poder de decisão sobre o seu futuro. Em Portugal entrevistou alguns polícias para saber se era mesmo verdade que não prendiam ninguém que fosse encontrado em posse de droga. No final, estes polícias fizeram um pedido aos EUA: acabem com a pena de morte.
José Rodrigues dos Santos falou dos "paralíticos gregos". Gostaria de saber o que diria sobre os alemães, que simplesmente podem dizer que estão stressados e que precisam de uma pausa para descansar e se dedicarem à família, para lhes ser oferecido 3 semanas num SPA.
Outros países foram invadidos, e descobre-se coisas que nos deixam de boca aberta, como o sistema prisional na Noruega, mas para terminar, vou falar do país que Cristiano Ronaldo considera que tem uma "mentalidade pequena", porque comemoram um empate frente a Portugal como se tivessem ganho o Euro. Comecemos pela mentalidade pequena. A 24 de Outubro de 1975, 90% das mulheres entraram em greve, saindo às ruas para chamar a atenção para a falta de reconhecimento do seu papel na sociedade. O país simplesmente parou! Nada, mesmo nada funcionou nesse dia, e foram só as mulheres que pararam, demonstrando assim que o que fazem é vital para o dia a dia do país. Cinco anos depois elegiam a primeira mulher presidente do mundo. Em matéria de mentalidade estamos conversados... Falemos agora do facto de terem comemorado o empate frente a Portugal de forma exuberante. Na Islândia é proibido usar-se a expressão "o melhor". Um café, por exemplo, pode ser bom. Este pode ser melhor do que aquele. Mas, ninguém poderá dizer que um determinado café é o melhor de todos. Por isso, ganhar à Holanda como fizeram no acesso ao Euro, chegar ao Euro, empatar com Portugal, são momentos de euforia, porque não estão habituados a isso. O que os move é serem felizes, não é o facto de serem "os melhores". Eles não têm "o melhor do mundo", não têm a ambição de vencerem o Euro e serem "os melhores da Europa", querem apenas desfrutar o momento. Até agora estão a ter mais sucesso do que "o melhor do mundo"...

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