Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que conheço
Não parecendo que o são
São aquilo que pareço
Mal vestido, fracamente
Sem dinheiro, pobretão
Aos olhos de muita gente
Sei que pareço um ladrão
Neste mundo de ambições
Em que a vida eu aborreço
Não digo que há só ladrões
Mas há muitos que conheço
Advérbios e adjetivos
Pendurados na gravata
Fraseados e ativos
Linguagem tecnocrata
A crise periclitante
E as glórias do historial
O pó do passado que é distante
No plano orçamental
Obviamente
Intrinsecamente
Consequentemente
Tão cristãmente
A nação toda escutava
À espera da panaceia
E o ministro ressonava
A um canto da assembleia
A nação desesperava
No busílis da questão
O ministro discursava
E a boca não tinha som
Absolutamente
Respeitosamente
Infelizmente
Tão piamente
Obviamente
Intrinsecamente
Consequentemente
Tão cristãmente
Só sai a ti
Só sai a ti
Só sai a ti
Só sai a ti
Só sai a ti
O sol bate no goraz
nas sardinhas
nos legumes
as laranjas
e as maçãs
enchem o ar
de perfumes
torna-se duro o Inverno
logo p´la manhã vem
o aconchego terno
do velho xaile de lã
A ponte é uma passagem
p´rá outra margem
A ponte é uma passagem
p´rá outra margem
Desafio pairando sobre o rio
a ponte é uma miragem...
Nas tasquinhas decoradas
curte-se o chique burguês
comem-se boas dobradas
ostenta-se a embriaguês
Há um navio fantasma
na voz de uma peixeira
e um velhote com asma mente à
própria ribeira
A ponte é uma passagem
p´rá outra margem
A ponte é uma passagem
p´rá outra margem
Desafio pairando sobre o rio
a ponte é uma miragem...
A ponte é uma passagem
p´rá outra margem
A ponte é uma passagem
p´rá outra margem
A ponte é uma passagem
p´rá outra margem
Carlos Tê / Mário Barreiros
Bikinis
Burkinis
Santorinis
A brilhar
Piscinas
Com águas
Pristinas
Que se podem tomar
Enseadas
Beijadas
Por ondas
À mão de privatizar
Migrantes
Magotes
Em botes
Turvando o azul do mar
Estende a toalha
E passa-me o bronzeador
Estende a toalha
E passa-me o bronzeador
Ergue a muralha
O acrílico anti-dor
Fronteiras
Costeiras
Barreiras
Contendo a maré
Arco-íris
Daiquiris
Haraquíris
Em 5G
Medusas
Intrusas
Lampedusas
Demasiadamente fora de pé
Roma
Detém os bárbaros
Devolve-os
Na bandeja da sua fé
Estende a toalha
E passa-me o bronzeador
Estende a toalha
E passa-me o bronzeador
Ergue a muralha
O acrílico anti-dor
Só mais um aperitivo
Do menu executivo
Vou desligar o sensor
E fazer anotações
No livro de reclamações.
A cerveja já está choca
e o café quase a fechar
Sinto a Cabeça tão louca Estou mesmo a flipar
Nó cego
Foi o que deste em mim rapariga
Nó cego
Deste-me cabo da vida
Hoje quase não dormi
E o rádio não liguei
Para não pensar em ti,
Bebi Rum e até drunfei
E no meu quarto fechado,
num terrível abandono
Senti-me um macho falhado
Deixei de ser teu dono.
Nó cego Foi o que deste em mim rapariga
Nó cego
Deste-me cabo da vida
Nó cego, foi o que deste em mim rapariga!
Nó cego! deste-me cabo da vida!
Todas as manhãs o sol espelha
Bate nas lentes escuras
O sangue jorra de esguelha
Na pala das ditaduras
Continente grita de dor
Rebenta pelas costuras
A morte, o medo e o terror
São dias feitos agruras
Do Paraguai a Porto Rico
Salvador às Honduras
Da Bolívia à Guatemala
Argentina ao Chile
Latina ' América
Latina ' América
Latina ' América
Latina ' América
Descem das montanhas
Para pôr fim a essa sina
Que te rebenta as entranhas
Capacete em cada esquina
Todas as manhãs o sol espelha
Bate nas lentes escuras
O sangue jorra de esguelha
Na pala das ditaduras
Do Paraguai a Porto Rico
Salvador às Honduras
Da Bolivia à Guatemala
Argentina ao Chile
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