O rapaz até que nem é burro
tem é falta de uso
mete o nariz onde não é chamado
como um parafuso
ó meu rapaz, tu só és senhor
do nariz que é teu
aqui paro para explicar uma coisa:
é que o rapaz sou eu
e assim fala quem quer mandar em mim
e assim fala quem quer mandar em mim
e assim fala quem quer mandar em mim
não protestes
não desfiles
não contestes
não refiles
já joguei ao boxe, já toquei bateria (trápum)
p´ra ver se me livrava desta energia
nada feito, que arrelia
Isto no fim não passa de uma fase
que passa com o uso
foi muita liberdade de uma vez
e o rapaz está confuso
agora é tempo de apertar com ele:
olha, acabou-se a farra
ai, ai, que este país está de pantanas
e não há quem o varra
assim fala quem já me quis varrer
assim fala quem já me quis varrer
assim fala quem já me quis varrer
não protestes
não desfiles
não contestes
não refiles
já joguei ao boxe, já toquei bateria (trápum,)
p´ra ver se me livrava desta energia
nada feito, que arrelia
Durante algum tempo foi necessário
pôr o rapaz a uso
pô-lo a gritar sobre o prestígio pátrio
e o orgulho luso
agora só nos faltava ele querer
virar o feitiço
contra o feiticeiro que o pôs a render
é que nem pensar nisso
assim fala quem me pôs a render
assim fala quem me pôs a render
assim fala quem me pôs a render
não protestes
não desfiles
não contestes
não refiles
já joguei boxe, já toquei bateria (trápum)
p´ra ver se me livrava desta energia
nada feito, que arrelia
Estimado ouvinte já que agora estou consigo
Peço apenas dois minutos de atenção
É pra contar a história de um amigo
Casimiro Baltazar da Conceição
O Casimiro talvez você não conheça
A aldeia donde ele vinha nem vem no mapa
Mas lá no burgo por incrível que pareça
Era mais famoso que no Vaticano o papa
O Casimiro era assim como um vidente
Tinha um olho mesmo no meio da testa
Isto para lá dos outros dois é evidente
Por isso façamos que ia dormir a sesta
Ficava de olho aberto
Via as coisas de perto
Que é uma maneira de melhor pensar
Via o que estava mal
E como é natural
Tentava sempre não se deixar enganar
E dizia ele com os seus botões
Cuidado Casimiro
Cuidado com as imitações
Cuidado minha gente
Cuidado justamente com as imitações
Lá na aldeia havia um homem que mandava
Toda a gente um por um pôr-se na bicha
E votar nele e se votassem lá lhes dava
Um bacalhau, um pão-de-ló uma salsicha
E prometeu que construía um hospital
Uma escola e prédios de habitação
E uma capela maior que uma catedral
Pelo menos a julgar pela descrição
Mas o Casimiro que era fino de ouvido
Tinha as orelhas equipadas com radar
Ouvia o tipo muito sério e comedido
Mas lá por dentro com o rabinho a dar a dar
E punha o ouvido atento
Via as coisas por dentro
Que é uma maneira de melhor pensar
Via o que estava mal
E como é natural
Tentava sempre não se deixar enganar
E dizia ele com os seus botões
Cuidado Casimiro, Cuidado Casimiro
Cuidado com as imitações
Cuidado minha gente
Cuidado justamente com as imitações
Ora o tal tipo que mandava lá na aldeia
Estava doido já se vê com o Casimiro
De cada vez que sorria à plateia
Lá se lhe viam os dentes de vampiro
De forma que para comprar o Casimiro
Em vez do insulto do boicote ou da ameaça
Disse-lhe: Sabe que no fundo o admiro
Vou erguer-lhe uma estátua aqui na praça
Mas o Casimiro que era tudo menos burro
E tinha um nariz que parecia um elefante
Sentiu logo que aquilo cheirava a esturro
Ser honesto não é só ser bem-falante
A moral deste conto
Vou resumi-la e pronto
Cada qual faz o que melhor pensar
Não é preciso ser
Casimiro para ter
Sempre cuidado para não se deixar levar
Cuidado Casimiro, Cuidado Casimiro
Cuidado com as imitações
Cuidado minha gente
Cuidado justamente com as imitações
Aprende a nadar, companheiro
aprende a nadar, companheiro
Que a maré se vai levantar
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
Maré alta
Maré alta
Maré alta
Eu vi quatro quadras soltas
À solta lá numa herdade
Amarrei-as com uma corda
E carreguei-as para cidade
Cheguei com elas a um largo
E logo ao largo se puseram
Foram ter com a família
E com os amigos que ainda o eram
Viram fados, viram viras
Viram canções de revolta
E encontraram bons amigos
Em mais que uma quadra solta
Uma viu um livro chamado
"Este livro que vos deixo"
E reviu velhas amizades
Eram quadras do Aleixo
Ó I ó ai, Há já menos quem se encolha
Ó I ó ai, Muita gente fala e canta
Ó I ó ai, Já se vai soltando a rolha
Que nos tapava a garganta
Ora bem, tinha marcado
Encontro com as quadras soltas
Pois sim, fiquei pendurado
Como um tolo ali às voltas
Chegou uma e disse: Andei
A cumprimentar parentes
E eu aqui a enxotar moscas
Vocês são mesmo indecentes
Respondeu-me: Ó patrãozinho
Desculpe lá essa seca
Estive a beber um copito
Com uma quadra do Zeca
Ó I ó ai, Disse-me um dia um careca
Ó I ó ai, Quando uma cobra tem sede
Ó I ó ai, Corta-lhe logo a cabeça
Encosta-a bem à parede
Das restantes quadras soltas
Não tinha sequer notícia
Dirigi-me a uma esquadra
E descrevi-as a um polícia
Respondeu-me: Com efeito
Nós temos aqui retida
Uma quadra sem papéis
Que encontramos na má vida
Diz que é uma quadra oral
Sem identificação
Que uma quadra popular
Não precisa de cartão
Se diz que pertence ao povo
O povo que venha cá
Que eu quero ver a licença
O registo e o alvará
Ó I ó ai, Quando se embebeda o pobre
Ó I ó ai, Dizem, olha o borrachão
Ó I ó ai, Quando se emborracha o rico
Acham graça ao figurão
Fui com a quadra popular
À procura da restante
Quando o polícia de longe
Disse: Venha aqui um instante
Temos aqui uma outra
Não sei se você conhece
Desrespeita autoridades
E diz o que lhe apetece
Tem uma rima forçada
E palavras estrangeiras
E semeia a confusão
Entre as outras prisioneiras
Se for sua, leve-a já
Que é pior que erva daninha
Olhe bem para ela: É sua?
Olhei bem para ela: É minha!
Ó I ó ai, Nós queremos é justiça
Ó I ó ai, E dinheiro para o bife
Ó I ó ai, E não esta cóboiada
Em que é tudo do sherife
Até ver!
Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado Domingo!
Vai a malta passear.
Sete dias na semana, e um só p'ra descansar.
Sete dias na semana, e um só p'ra descansar.
Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado Domingo!
Vai a malta passear.
Sete dias na semana, e um só p'ra descansar.
Sete dias na semana, e um só p'ra descansar.
Segunda-feira, namorei a Rosalina.
Na Terça-feira, telefonei à Miquelina.
Na Quarta-feira, encontrei a Manuela.
Na Quinta-feira, fui ter com a Felizbela.
Na Sexta-Feira, telefonei à Ivone (ahhh)
E no Sábado (ah ah), estive com a Olga.
E ao Domingo? Ao Domingo estou de folga.
Ora vejam lá (ah ah), ora vejam lá, ora vejam lá
Sorte como estas não há (ai pois não)
Ora vejam lá, ora vejam lá, ora vejam lá,
Sorte como estas não há.
Sim, o amor é vão
É certo e sabido
Mas então (porque não) porque sopra ao ouvido
O sopro do coração
Se o amor é vão
Mera dor
Mero gozo
Sorvedouro caprichoso
No sopro do coração...
Mas nisto o vento sopra doido
E o que foi do corpo num turbilhão
Sopra doido
E o que foi do corpo alado nas asas do turbilhão
Nisto já nem de ar precisas
Só meras brisas,
Raras
Raras
Raras
Corto em dois limão
Chego ao ouvido
Ao frescor
Ao barulho
À acidez do mergulho
No sangue do coração
Pulsar em vão
É bem dele
É bem isso
E apesar disso eriça a pele
No sopro do coração...
Quando
Tu me vires no futebol
Estarei no campo
Cabeça ao Sol
A avançar pé ante pé
Para uma bola que está
À espera dum pontapé
À espera dum penalty
Que eu vou transformar para ti
Eu vou
Atirar para ganhar
Vou rematar
E o golo que eu fizer
Ficará sempre na rede
A libertar-nos da sede
Não me olhes só da bancada lateral
Desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
Vem falar comigo como gente que se ama
E até não se poder mais
Vamos jogar
Quando
Tu me vires no music-hall
Estarei no palco
Cabeça ao Sol
Ao Sol da noite das luzes
À espera dum outro Sol
E que os teus olhos os uses
Como quem usa um farol
Não me olhes só dessa frisa lateral
Desce pela cortina e acompanha-me em cena
Vamos dar à perna como gente que se ama
E até não se poder mais
Vamos bailar
Quando
Tu me vires na televisão
Estarei no écran
Pés assentes no chão
A fazer publicidade
Mas desta vez da verdade
Mas desta vez da alegria
De duas mãos agarradas
Mão a mão no dia a dia
Não me olhes só desse maple estofado
Desce pela antena e vem comigo ao programa
Vem falar à gente como gente que se ama
E até não se poder mais
Vamos cantar
E quando
À minha casa fores dar
Vem devagar
E apaga-me a luz
Que a luz destoutra ribalta
Às vezes não me seduz
Às vezes não me faz falta
Às vezes não me seduz
Às vezes não me faz falta
Com um brilhozinho nos olhos
E a saia rodada
Escancaraste a porta do bar
Trazias o cabelo aos ombros
Passeando de cá para lá
Como as ondas do mar
Conheço tão bem esses olhos
E nunca me enganam
O que é que aconteceu diz lá
É que hoje fiz um amigo
E coisa mais preciosa no mundo não há
É que hoje fiz um amigo
E coisa mais preciosa no mundo não há
Com um brilhozinho nos olhos
Metemos o carro
Muito à frente muito à frente dos bois
Ou seja fizemos promessas
Trocámos retratos
Traçámos projectos a dois
Trocámos de roupa trocámos de corpo
Trocámos de beijos tão bom é tão bom
E com um brilhozinho nos olhos
Tocámos guitarras
Pelo menos a julgar pelo som
E com um brilhozinho nos olhos
Tocámos guitarras
Pelo menos a julgar pelo som
E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Passa aí mais um bocadinho
Que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Portanto
Hoje soube-me a pouco
Com um brilhozinho nos olhos
Corremos os estores
Pusemos a rádio no on
Acendemos a já costumeira
Velinha de igreja
Pusemos no off o telefone
E olha não dá para contar
Mas sei que tu sabes
Daquilo que sabes que eu sei
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos parados
Depois do que não te contei
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos parados
Depois do que não te contei
Com um brilhozinho nos olhos
Dissemos sei lá
Tudo o que nos passou pela tola
Do estilo: és o number one
Dou-te vinte valores
És um treze no totobola
E às duas por três
Bebemos um copo
Fizemos o quatro e pintámos o sete
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos imoveis
A dar uma de tête a tête
E com um brilhozinho nos olhos
Ficámos imoveis
A dar uma de tête a tête
E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Passa aí mais um bocadinho
Que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Portanto
Hoje soube-me a pouco
E com um brilhozinho nos olhos
Tentámos saber
Para lá do que muito se amou
Quem eramos nós
Quem queriamos ser
E quais as esperanças
Que a vida roubou
E olhei-o de longe
E mirei-o de perto
Que quem não vê caras
Não vê corações
E com um brilhozinho nos olhos
Guardei um amigo
Que é coisa que vale milhões
E com um brilhozinho nos olhos
Guardei um amigo
Que é coisa que vale milhões
E o que é que foi que ele disse?
E o que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Hoje soube-me a pouco
Passa aí mais um bocadinho
Que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Hoje soube-me a tanto
Portanto
Hoje soube-me a pouco
No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés veludo
Chupar o sangue fresco da manada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
À toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão
habitação
saúde, educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então tu olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"



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