Eu sou o homem-fantasma
vejo tudo sem ser visto
eu sou um justiceiro
com um disfarce sinistro
eu meto medo aos que nos vêm
com falinhas falsas
e treme-lhes a dentadura
cai-lhes as calças
Eu sou o homem fantasma
e estou em toda a parte
voar para alguns é profissão
para mim é uma arte
mas para ver o meu bairro
eu não preciso de asas
muito prédio a crescer
e muita gente sem casas
Nunca descansa, o homem-fantasma
e a gente espanta-se e a gente pasma
quando respira fundo, o homem fantasma
nunca é de alívio
quando muito será de asma.
Eu sou o homem-fantasma
vejo tudo sem ser visto
e já espreitei para dentro
da carteira de um ministro
e vi fotografias
de um passado duvidoso
e outras mais recentes
dele todo vaidoso
Eu sou o homem-fantasma
justiceiro imortal
eu vou de norte a sul
da montanha ao litoral
e enquanto a luz e a água
vão para a vila e para a cidade
para aldeia vão jornais da tarde
e boa vontade
Nunca descansa, o homem-fantasma
e a gente espanta-se, e a gente pasma
quando respira fundo, o homem-fantasma
nunca é de alívio
quando muito será de asma
Eu sou o homem-fantasma
e estive num hospital
há lá quem morra
tanto da cura como do mal
e os donos da medicina
gritaram: Aí, o homem-fantasma!
Depressa, uma seringa,
um bisturi, um cataplasma!
Eu sou o homem-fantasma
e como vidro transparente
eu sento-me aos jantares
e ninguém me pressente
e dizem: tal e coisa
e coisa e tal e vice e versa
e o que lá fora era discurso
cá dentro é conversa
Nunca descansa, o homem-fantasma
e a gente espanta-se, e a gente pasma
quando respira fundo, o homem-fantasma
nunca é de alívio
quando muito será de asma
Eu sou o homem-fantasma
combatente infatigável
mas atenção que até eu
posso ser creticável
se depois do que eu digo
e denuncio e reclamo
eu voltar para casa
e em casa eu for um tirano
Nunca descansa, o homem-fantasma
e a gente espanta-se, e a gente pasma
quando respira fundo, o homem-fantasma
nunca é de alívio
quando muito será de asma
Quando
Tu me vires no futebol
Estarei no campo
Cabeça ao Sol
A avançar pé ante pé
Para uma bola que está
À espera dum pontapé
À espera dum penalty
Que eu vou transformar para ti
Eu vou
Atirar para ganhar
Vou rematar
E o golo que eu fizer
Ficará sempre na rede
A libertar-nos da sede
Não me olhes só da bancada lateral
Desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
Vem falar comigo como gente que se ama
E até não se poder mais
Vamos jogar
Quando
Tu me vires no music-hall
Estarei no palco
Cabeça ao Sol
Ao Sol da noite das luzes
À espera dum outro Sol
E que os teus olhos os uses
Como quem usa um farol
Não me olhes só dessa frisa lateral
Desce pela cortina e acompanha-me em cena
Vamos dar à perna como gente que se ama
E até não se poder mais
Vamos bailar
Quando
Tu me vires na televisão
Estarei no écran
Pés assentes no chão
A fazer publicidade
Mas desta vez da verdade
Mas desta vez da alegria
De duas mãos agarradas
Mão a mão no dia a dia
Não me olhes só desse maple estofado
Desce pela antena e vem comigo ao programa
Vem falar à gente como gente que se ama
E até não se poder mais
Vamos cantar
E quando
À minha casa fores dar
Vem devagar
E apaga-me a luz
Que a luz destoutra ribalta
Às vezes não me seduz
Às vezes não me faz falta
Às vezes não me seduz
Às vezes não me faz falta
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