Ter no peito um braseiro
Que nos queima o ano inteiro
Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que conheço
Não parecendo que o são
São aquilo que pareço
Mal vestido, fracamente
Sem dinheiro, pobretão
Aos olhos de muita gente
Sei que pareço um ladrão
Neste mundo de ambições
Em que a vida eu aborreço
Não digo que há só ladrões
Mas há muitos que conheço
Advérbios e adjetivos
Pendurados na gravata
Fraseados e ativos
Linguagem tecnocrata
A crise periclitante
E as glórias do historial
O pó do passado que é distante
No plano orçamental
Obviamente
Intrinsecamente
Consequentemente
Tão cristãmente
A nação toda escutava
À espera da panaceia
E o ministro ressonava
A um canto da assembleia
A nação desesperava
No busílis da questão
O ministro discursava
E a boca não tinha som
Absolutamente
Respeitosamente
Infelizmente
Tão piamente
Obviamente
Intrinsecamente
Consequentemente
Tão cristãmente
Só sai a ti
Só sai a ti
Só sai a ti
Só sai a ti
Só sai a ti
Quando a Guida vem à janela
Deitar olho ao império
Saúda o Major Alvega
E põe fleuma no ar sério
Depois regressa à cozinha
Para temperar a sopa
Com o seu avental velho
Ainda dá lições à Europa
Diz que tem
Peito de ferro
Chamam-lhe a Guida peituda
Diz que tem
Peito de ferro
Chamam-lhe a Guida peituda
Quando rega o jardim
É perversa com as plantas
Deixa os trevos irlandeses
Morrer cobertos com mantas
Há revolta em toda a casa
Desde o jardim ao terraço
Se deixares queimar os bifes
De ferro ficas palha d'aço
Diz que tem
Peito de ferro
Chamam-lhe a Guida peituda
Diz que tem
Peito de ferro
Chamam-lhe a Guida peituda
Diz que tem
Peito de ferro
Chamam-lhe a Guida peituda
Diz que tem
Peito de ferro
Chamam-lhe a Guida peituda
A cerveja já está choca
e o café quase a fechar
Sinto a Cabeça tão louca
Estou mesmo a flipar
Nó cego
Foi o que deste em mim rapariga
Nó cego
Deste-me cabo da vida
Hoje quase não dormi
E o rádio não liguei
Para não pensar em ti,
Bebi Rum e até drunfei
E no meu quarto fechado,
num terrível abandono
Senti-me um macho falhado
Deixei de ser teu dono.
Nó cego
Foi o que deste em mim rapariga
Nó cego
Deste-me cabo da vida
Nó cego, foi o que deste em mim rapariga!
Nó cego! deste-me cabo da vida!
Todas as manhãs o sol espelha
Bate nas lentes escuras
O sangue jorra de esguelha
Na pala das ditaduras
Continente grita de dor
Rebenta pelas costuras
A morte, o medo e o terror
São dias feitos agruras
Do Paraguai a Porto Rico
Salvador às Honduras
Da Bolívia à Guatemala
Argentina ao Chile
Latina ' América
Latina ' América
Latina ' América
Latina ' América
Descem das montanhas
Para pôr fim a essa sina
Que te rebenta as entranhas
Capacete em cada esquina
Todas as manhãs o sol espelha
Bate nas lentes escuras
O sangue jorra de esguelha
Na pala das ditaduras
Do Paraguai a Porto Rico
Salvador às Honduras
Da Bolivia à Guatemala
Argentina ao Chile
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