Manuela Azevedo & Orquestra de Jazz de Matosinhos

(John Ulhoa / Hélder Gonçalves)

Se o amor faz sofrer
Se a paixão faz doer
O que o ódio fará?

Não soube o que dizer
Magoei sem querer
Mas não queres perdoar

Discutiste, insististe
E pior, não me ouviste
Nem me viste chorar

E eu cedi, concordei,
Admiti que errei
Mas só queres guerrear

E eu sei
Não tem fim
Não queres a paz que
trago em mim
Não, não...

Argumentos que ferem
Silêncios torturam
Gestos são letais

E afinal, pra quê mais?
Concordar jamais
Mesmo que eu diga sim

E eu sei
Não tem fim
Não queres a paz que trago em mim

Vi também
Que a paz em ti
Não fica bem
Não, não...

E eu vou
Vou desandar daqui
Antes que o céu decida
Desabar sobre mim

Eu sei
Não tem fim
Não queres a paz que trago em mim

Vi também
Que a paz em ti
Não fica bem

Não tem fim
Tu não queres a paz que trago em mim
Sei também
Que a paz em ti não fica bem
Não, não…

Etelvina com seis meses já se tinha de pé
Foi deixada num cinema depois da matuinée
Com um recado na lapela que dizia assim
Quem tomar conta de mim
Quem tomar conta de mim
Saiba que fui vacinada
Saiba que sou malcriada

Etelvina com dezasseis anos já conhecia
Todos os reformatórios da terra onde vivia
Entregaram-na a uma velha que ralhava assim
Ai menina sem juizo
Nem mereces um sorriso
Vais acabar num bueiro
Sem futuro nem dinheiro

"Eu durmo sozinha à noite
Vou dormir à beira rio à noite, à noite
Acocorada com o frio à noite, à noite, à noite, à noite, à noite"

Etelvina era da rua como outros são do campo
Sua cama era um caixote sem paredes nem tampo
Sua janela uma ponte que dizia assim:
Dentro das minhas cidades
Já não sei quem é ladrão
Se um que anda fora de grades
Se outro que está na prisão

Etelvina só gostava era de andar pela cidade
A semear desacatos e a colher tempestades
A meter-se c'os ricaços, a dizer assim:
Você que passa de carro
Ferre aqui a ver se eu deixo
Venha cá que eu já o agarro
Dou-lhe um pontapé no queixo

"Eu durmo sozinha à noite
Vou dormir à beira rio à noite, à noite
Acocorada com o frio à noite, à noite, à noite, à noite, à noite"

Etelvina já cansada de viver sem ninguém
A não ser de vez em quando amores de vai e vem
Pôs um anúncio no jornal que dizia assim:
Mulher desembaraçada
Quer viver com alma irmã
De quem não seja criada
De quem não seja mamã

Etelvina já sabia que não ia encontrar
Nem um príncipe encantado nem um lobo do mar
Só alguém com quem pudesse dizer assim:
O amor já não é cego
Abre os olhinhos à gente
Faz lutar com mais apego
A quem quer vida diferente

O seu homem encontro-o à noite
A dormir à beira rio, à noite, à noite
Acocorado com frio à noite, à noite, à noite, à noite, à noite

Dá notícias do fundo
Como passam teus dias?
Diz se a razão nos chega para viver
Se amor nos serve, amor não dá de comer
Fico melhor assim
Em todo o caso vai pensando em mim

Se tocámos em alguma coisa
Se me chamas por algum motivo
Se nos podem ver
Se nos podem tocar

Meu desejo
É morrer na paz do teu beijo
Sem futuro
É lutar por um beijo mais puro

Eu vou estar sempre aqui
Nada vai mudar
Sinto-te arder no meu fundo
Eu vou estar sempre aqui
Nada vai mudar
Sinto-te entrar no meu mundo fundo

Nós tocámos em algumas coisas
Nós seguimos por alguns sentidos
Se nos podem ver
Não nos podem tocar

Meu desejo
É morrer na paz do teu beijo
Sem futuro
É lutar por um beijo mais puro
Sem futuro
É lutar por um beijo mais puro

Nada fora do mundo
Nada fora do mundo
São notícias do fundo

Não sentes tremer a terra?
Línguas de fogo e de gelo
Não sentes que a luz te ferra
Na nuca e no tornozelo?

Mas só os que ainda crescem
Em massa desobedecem

Tudo murcha, tudo seca
No dilúvio e na aridez
Arde bosque e biblioteca
Nunca mais era uma vez

Greve humana (ilimitada)
Na velha escola (já não se aprende nada)

Mas só os que ainda crescem
Em massa desobedecem
Mas só quem está a crescer
Se insurge contra o poder

Ameaça da extinção
Congestão no espaço aéreo
Águas vão, não voltam não
Os mares viram cemitério

Mas só os que ainda crescem
Em massa desobedecem
Mas só quem está a crescer
Se insurge contra o poder

Para e pensa
Para e pensa
Para e pensa
Para e pensa

Podres migrantes e párias
Multidões de exilados
Mil fronteiras mortuárias
P'ra afastar indesejados

Mas só os que ainda crescem
Em massa desobedecem
Mas só quem está a crescer
Se insurge contra o poder

(Carlos Tê/ Hélder Gonçalves)

A vida é como uma corda
de tristeza e alegria
que saltamos a correr
pé em baixo, pé em cima
até morrer

não convém esticá-la
nem que fique muito solta
bamba é a conta certa
como dança de ida e volta
que mantém a via aberta

dançar na corda bamba
não é techno, não é samba
é a dança do ter e não ter
é a dança da corda bamba

salta agora pelo amor
ele dá o paladar
mesmo que a tua sorte
seja a de um perdedor
nunca deixes de saltar

se saltares muito alto
não tenhas medo de cair
de ficar infeliz
feliz a cem por cento
só mesmo um pateta feliz

dançar na corda bamba
não é techno, não é samba
é a dança do ter e não ter
é a dança da corda bamba

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