ASAS DELTA
(Letra: Regina Guimarães/ Música: Hélder Gonçalves)
Hei, tenho asas nos pés
tenho asas
Hei tenho molas nos pés
e salto
Sinto um formigueiro
nas mãos e nos braços
passarinhos na cabeça
Cata-vento nos ouvidos
mil antenas nos cabelos
Quem me leva tenho pressa
Pé de cabra, pé de dança
Dançar por gosto não cansa
Não vou só, levo o meu bando
a dança nos vai juntando
Hei, tenho asas nos pés
tenho asas
Hei tenho molas nos pés
e salto
Se me pesa o traseiro
levanto o meu nariz
perco o medo e a vergonha
Fecho os olhos aí vou
e já não estou onde estou
nem sei quando posso parar
Pé de cabra, pé de dança
Dançar por gosto não cansa
Não vou só, levo o meu bando
a dança nos vai juntando
Hei, tenho asas nos pés
tenho asas
Hei tenho molas nos pés
E salto
Mais alto
H2OMEM
(Arnaldo Antunes/ Hélder Gonçalves)
a gota caiu na poça
a poça caiu na lagoa
a lagoa caiu no mar
e aqui se fez a pessoa
a pessoa caiu na outra
a outra caiu na outra
a gota caiu na gota
e o mar se fez da garoa
agá dois homem
pra dentro da boca da boca da boca do rio
correndo escorrendo pra dentro do copo vazio
e do copo cheio transbordando, embalando o navio
chovendo, jorrando, enxurrando, enchendo o cantil
agá dois homem
pra beber e tomar banho
agá dois homem
pra nadar e fazer sopa
agá dois homem
pra molhar a plantação
contra a cabeça pedra
contra a cabeça ferro
contra a certeza inquestionável
agá dois homem
pra lavar a roupa suja
agá dois homem
pra furar a pedra dura
agá dois homem
pra chover sobre o sertão
TIRA A TEIMA
(Carlos Tê/ Hélder Gonçalves)
Se um dia me aproximar de ti
Não penses que é só um flirt
Não julgues que é um filme
Que já viste em qualquer parte
Pensa bem antes de agir
Evita ser imprudente
Faz a carta do meu signo
E vê à lupa o ascendente
Tem cuidado e tira a teima
Vê aquilo que sou
Tem cuidado e tira a teima
Tu não sonhas ao que venho
Não sabes do que sou capaz
Eu dou tudo quanto tenho
Não funciono a meio gás
Vem sentar-te à minha frente
Diz-me o que vês em mim
Não respondas já a quente
Pondera antes de dizer sim
Tem cuidado e tira a teima
Porque aquilo que sou
Fere, rasga e queima
Diz-me se vês o granito
Onde se gravam os grandes temas
Diz-me se vês o amor infinito
Ou somente um par de algemas
Tem cuidado e tira a teima
Porque aquilo que sou
Fere, rasga e queima
Conta-me Histórias
Agora que pousas a cabeça
Na almofada e respiras satisfeita
Quero teu amor
Sem sentido nem proveito
Agora que repousas
Lentamente sinto a curva do teu peito
Procuro o segredo do teu cheiro
Do teu cheiro
Juntos fomos correndo lado a lado
Juntos fomos sofrendo ter amado
Amas a vida e eu amo te a ti
Conta-me histórias daquilo que eu não vi (3x)
Conta-me histórias que eu não vi
Logo juntas a tua roupa
E dizes que a vida está lá fora
Passou a minha hora (3x)
Juntos fomos correndo lado à lado
Juntos fomos sofrendo ter amado
Amas a vida e eu amo-te a ti
Conta-me histórias daquilo que eu não vi (3x)
Conta-me histórias que eu não vi...
Que eu não vi... (4x)
BASTA
(Arnaldo Antunes / Hélder Gonçalves)
o estômago no coração
uma estrela pra pegar com a mão
mais um livro fora do lugar
um copo d’ água para transbordar
uma bússola em vez de relógio
uma festa depois do velório
um quilómetro ao redor de mim
toda a primavera um dia chega ao fim
mas eu sei
que aproveitarei
e isso basta, basta
se é pouco
o resto eu dou de troco
e isso basta, basta
um botão pra desabotoar
uma boca para abocanhar
dez segundos para decidir
todo o mundo junto pra conseguir
um supermercado como labirinto
um olho fechado pra mostrar que minto
muita paciência para escutar
menos timidez para poder falar
mas de perto
o que pegar eu aperto
e isso basta, basta
e de dentro
o que não der eu invento
e isso basta, basta
eu sei que aproveitarei
e isso basta, basta
o resto eu dou de troco
e isso me basta, basta
basta
basta
A PAZ NÃO TE CAI BEM
(John Ulhoa / Hélder Gonçalves)
Se o amor faz sofrer
Se a paixão faz doer
O que o ódio fará?
Não soube o que dizer
Magoei sem querer
Mas não queres perdoar
Discutiste, insististe
E pior, não me ouviste
Nem me viste chorar
E eu cedi, concordei,
Admiti que errei
Mas só queres guerrear
E eu sei
Não tem fim
Não queres a paz que
trago em mim
Não, não...
Argumentos que ferem
Silêncios torturam
Gestos são letais
E afinal, pra quê mais?
Concordar jamais
Mesmo que eu diga sim
E eu sei
Não tem fim
Não queres a paz que trago em mim
Vi também
Que a paz em ti
Não fica bem
Não, não...
E eu vou
Vou desandar daqui
Antes que o céu decida
Desabar sobre mim
Eu sei
Não tem fim
Não queres a paz que trago em mim
Vi também
Que a paz em ti
Não fica bem
Não tem fim
Tu não queres a paz que trago em mim
Sei também
Que a paz em ti não fica bem
Não, não…
OS EMBEIÇADOS
(Letra: Regina Guimarães/ Música: Hélder Gonçalves)
Ela tem
boca torta
nariz grande
cabelo mal cortado
rói as unhas
usa cunhas
mas eu estou apaixonado
Ele tem
espinhas sardas
pontos negros
e uma boca exagerada
desafina
e desatina
mas eu estou apaixonada
Ela é
ciumenta
rabugenta
embirrenta e tagarela
intriguista
e moralista
mas eu estou louco por ela
Ele faz
cenas gagas
altas fitas
não tem confiança em mim
faz-se caro
faz-me trombas
mas eu gosto dele assim
Diz-se que o amor é cego
deforma tudo a seu jeito
mas eu acho que o amor
descobre o lado melhor
do que parece defeito
Porque eu gosto
gosto dele
e ela gosta
gosta de gostar de mim
CHOCOLATANDO
(Letra: Regina Guimarães/ Música: H. Gonçalves)
não sou de grande apetite
mas tenho fomes assim
entre o lanche e o jantar
entre a cama e a despensa
porque a voz do chocolate
está sempre a chamar por mim
sou ché ché por chocolates
u lá lá melhor que chicha
ovinhos, línguas de gato
barras de vinte quilates
viro logo cachalote
nunca chega uma tablette
para laricas de choque
não sou de grandes petiscos
como e não choro por mais
debico como os pardais
mas não resisto ao apelo
do cheirinho a chocolate
nas minhas fossas nasais
sou ché ché por chocolates
u lá lá melhor que chicha
ovinhos, línguas de gato
barras de vinte quilates
viro logo cachalote
nunca chega uma tablette
para laricas de choque
chocolate xeque mate
mini chinca ganda caixa
com recheio e sem receio
boca cheia bola baixa
chocolatando me encharco
e de cacau não me farto
O SOPRO DO CORAÇÃO
Sérgio Godinho/ Hélder Gonçalves
sim, o amor é vão
é certo e sabido
mas então (porque não)
porque sopra ao ouvido
o sopro do coração?
se o amor é vão
mera dor mero gozo
sorvedouro caprichoso
no sopro do coração
no sopro do coração
mas nisto o vento sopra doido
e o que foi do
corpo no turbilhão
sopra doido
e o que foi do
corpo alado
nas asas do turbilhão
nisto já nem de ar precisas
só meras brisas
raras
corto em dois limão
chego o ouvido
ao frescor
ao barulho
à acidez do mergulho
no sangue do coração
pulsar em vão
é bem dele é bem isso
e apesar disso eriça a pele
o sopro do coração
o sopro do coração
mas nisto o vento sopra doido
e o que foi do
corpo no turbilhão
sopra doido
e o que foi do
corpo alado
nas asas do turbilhão
nisto já nem de ar precisas
só meras brisas raras
raras
OUTRA VEZ
(John Ulhoa / Hélder Gonçalves)
Dizem pra te contentares
Se um amor a vida traz
Tanta gente sem nenhum
Que é errado querer mais
Não consigo ser assim
Tanto amor que há pra gastar
Se o romance acabar
Numa próxima estação
Eu sei que vou me apaixonar
Sei que vou me apaixonar
Outra vez
Dizem que se terminou
É porque não era amor
Não me venham reclamar
Que alguém sem par ficou
Não prejudiquei ninguém
Na matemática dos casais
Se o romance não valeu
No próximo verão
Sei que vou me apaixonar
Sei que vou me apaixonar
Outra vez
Depois
John Ulhoa
Não foi dessa vez
Mas pode ter certeza
Mal posso esperar
Pra fugir da tristeza
Amanhã talvez
Vai ser um carnaval
Vão falar de mim
Pro bem ou pro mal
Tomo um café e um guaraná pra me animar
Mas ficou tão tarde
Que é melhor deixar pra lá...
Quando penso em nós dois
Deixo tudo pra depois
Quando penso em nós três
Fica pra outra vez
Juntei passos, palavras
Não era bem o momento
Fingi não querer nada
Tem horas que não me aguento...
Prometo, juro, garanto
Vou resolver tudo isso
Assim que tiver coragem
E mais nenhum compromisso
PROBLEMA DE EXPRESSÃO
(Carlos Tê/ Hélder Gonçalves)
só para dizer que te amo
nem sempre encontro o melhor termo
nem sempre escolho o melhor modo
devia ser como no cinema
a língua inglesa fica sempre bem
e nunca atraiçoa ninguém
o teu mundo está tão perto do meu
e o que digo está tão longe
como o mar está do céu
só para dizer que te amo
não sei porquê este embaraço
que mais parece que só te estimo
e há até um momento em que digo o que não quero
e o que sinto por ti são coisas confusas
e até parece que estou a mentir
as palavras custam a sair
não digo o que estou a sentir
digo o contrário do que estou a sentir
o teu mundo está tão perto do meu
e o que digo está tão longe
como o mar está do céu
e é tão difícil
dizer amor
é bem melhor dizê-lo a cantar
por isso esta noite fiz esta canção
para resolver o meu problema de expressão
p'ra ficar mais perto
bem mais de perto
ficar mais perto
bem mais de perto
GTI (GENTLE, TALL & INTELLIGENT)
(Carlos Tê/ Hélder Gonçalves)
o sonho dos meus amigos
é ter um G.T.I.
não importa de que marca de que cor
o sonho dos meus amigos
é ter um G.T.I.
não importa se inglês ou japonês
eu ando pensativo
porque não tenho esse sonho
ando a pensar qual o motivo
porque não sonho com o G.T.I.
o sonho dos meus amigos
é ter um G.T.I.
não importa de que marca de que cor
o sonho dos meus amigos
é ter um G.T.I.
não importa se inglês ou japonês
os meus amigos riem-se de mim
por ser feliz assim sem sonhar com um G.T.I.
eles não sonham que me basta ter-te a ti
a sonhar comigo desde que te conheci
o sonho dos meus amigos
é ter um G.T.I.
não importa de que marca de que cor
o sonho dos meus amigos
é ter um G.T.I.
não importa se inglês ou japonês
desde que seja um G.T.I.
DANÇAR NA CORDA BAMBA
(Carlos Tê/ Hélder Gonçalves)
A vida é como uma corda
de tristeza e alegria
que saltamos a correr
pé em baixo, pé em cima
até morrer
não convém esticá-la
nem que fique muito solta
bamba é a conta certa
como dança de ida e volta
que mantém a via aberta
dançar na corda bamba
não é techno, não é samba
é a dança do ter e não ter
é a dança da corda bamba
salta agora pelo amor
ele dá o paladar
mesmo que a tua sorte
seja a de um perdedor
nunca deixes de saltar
se saltares muito alto
não tenhas medo de cair
de ficar infeliz
feliz a cem por cento
só mesmo um pateta feliz
dançar na corda bamba
não é techno, não é samba
é a dança do ter e não ter
é a dança da corda bamba
SEXTO ANDAR
(Carlos Tê/ Hélder Gonçalves)
Uma canção passou no rádio
E quando o seu sentido
Se parecia apagar
Nos ponteiros do relógio
Encontrou num sexto andar
Alguém que julgou
Que era para si
Em particular
Que a canção estava a falar
E quando a canção morreu
Na frágil onda do ar
Ninguém soube que ela deu
O que ninguém
Estava lá para dar
Um sopro um calafrio
Raio de sol num refrão
Um nexo enchendo o vazio
Tudo isso veio
Numa simples canção
Uma canção passou no rádio
Habitou um sexto andar
FAHRENHEIT
(Carlos Tê/ Hélder Gonçalves)
não ouviste o fogo a arder
não sentiste o mercúrio à volta
a subir em flecha a subir em ti
a subir no sangue a acender o corpo
não ouviste o chamamento
os tambores tocando ao relento
palcos em chamas cabelos ao vento
incêndios de verão lavrando o chão
fahrenheit a noite estala
parte a escala
fahrenheit a noite estala
sente o fogo a arder
fahrenheit a noite estala
explode a escala
fahrenheit a noite estala
ouve o fogo a arder
não ouviste o fogo a arder
não sentiste o mercúrio à volta
guitarras em fúria lanternas no ar
vozes a cantar em tons de gasolina
não sentiste a queimadura
não sentiste a alma pura
não ouviste o eco chamando outro eco
o fogo lambendo o teu coração seco
fahrenheit a noite estala
parte a escala
fahrenheit a noite estala
sente o fogo a arder
fahrenheit a noite estala
explode a escala
fahrenheit a noite estala
ouve o fogo a arder
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