Sérgio Godinho & Assessores no Palácio de Cristal

O rapaz até que nem é burro
tem é falta de uso
mete o nariz onde não é chamado
como um parafuso
ó meu rapaz, tu só és senhor
do nariz que é teu
aqui paro para explicar uma coisa:
é que o rapaz sou eu
e assim fala quem quer mandar em mim
e assim fala quem quer mandar em mim
e assim fala quem quer mandar em mim
não protestes
não desfiles
não contestes
não refiles
já joguei ao boxe, já toquei bateria (trápum)
p´ra ver se me livrava desta energia
nada feito, que arrelia
Isto no fim não passa de uma fase
que passa com o uso
foi muita liberdade de uma vez
e o rapaz está confuso
agora é tempo de apertar com ele:
olha, acabou-se a farra
ai, ai, que este país está de pantanas
e não há quem o varra
assim fala quem já me quis varrer
assim fala quem já me quis varrer
assim fala quem já me quis varrer
não protestes
não desfiles
não contestes
não refiles
já joguei ao boxe, já toquei bateria (trápum,)
p´ra ver se me livrava desta energia
nada feito, que arrelia
Durante algum tempo foi necessário
pôr o rapaz a uso
pô-lo a gritar sobre o prestígio pátrio
e o orgulho luso
agora só nos faltava ele querer
virar o feitiço
contra o feiticeiro que o pôs a render
é que nem pensar nisso
assim fala quem me pôs a render
assim fala quem me pôs a render
assim fala quem me pôs a render
não protestes
não desfiles
não contestes
não refiles
já joguei boxe, já toquei bateria (trápum)
p´ra ver se me livrava desta energia
nada feito, que arrelia

Estimado ouvinte já que agora estou consigo
Peço apenas dois minutos de atenção
É pra contar a história de um amigo
Casimiro Baltazar da Conceição

O Casimiro talvez você não conheça
A aldeia donde ele vinha nem vem no mapa
Mas lá no burgo por incrível que pareça
Era mais famoso que no Vaticano o papa

O Casimiro era assim como um vidente
Tinha um olho mesmo no meio da testa
Isto para lá dos outros dois é evidente
Por isso façamos que ia dormir a sesta

Ficava de olho aberto
Via as coisas de perto
Que é uma maneira de melhor pensar
Via o que estava mal
E como é natural
Tentava sempre não se deixar enganar
E dizia ele com os seus botões

Cuidado Casimiro
Cuidado com as imitações
Cuidado minha gente
Cuidado justamente com as imitações

Lá na aldeia havia um homem que mandava
Toda a gente um por um pôr-se na bicha
E votar nele e se votassem lá lhes dava
Um bacalhau, um pão-de-ló uma salsicha

E prometeu que construía um hospital
Uma escola e prédios de habitação
E uma capela maior que uma catedral
Pelo menos a julgar pela descrição

Mas o Casimiro que era fino de ouvido
Tinha as orelhas equipadas com radar
Ouvia o tipo muito sério e comedido
Mas lá por dentro com o rabinho a dar a dar

E punha o ouvido atento
Via as coisas por dentro
Que é uma maneira de melhor pensar
Via o que estava mal
E como é natural
Tentava sempre não se deixar enganar
E dizia ele com os seus botões

Cuidado Casimiro, Cuidado Casimiro
Cuidado com as imitações

Cuidado minha gente
Cuidado justamente com as imitações
Ora o tal tipo que mandava lá na aldeia
Estava doido já se vê com o Casimiro
De cada vez que sorria à plateia
Lá se lhe viam os dentes de vampiro

De forma que para comprar o Casimiro
Em vez do insulto do boicote ou da ameaça
Disse-lhe: Sabe que no fundo o admiro
Vou erguer-lhe uma estátua aqui na praça

Mas o Casimiro que era tudo menos burro
E tinha um nariz que parecia um elefante
Sentiu logo que aquilo cheirava a esturro
Ser honesto não é só ser bem-falante

A moral deste conto
Vou resumi-la e pronto
Cada qual faz o que melhor pensar
Não é preciso ser
Casimiro para ter
Sempre cuidado para não se deixar levar

Cuidado Casimiro, Cuidado Casimiro
Cuidado com as imitações
Cuidado minha gente
Cuidado justamente com as imitações

Aprende a nadar, companheiro
aprende a nadar, companheiro
Que a maré se vai levantar
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
Maré alta
Maré alta
Maré alta

Eu vi quatro quadras soltas
À solta lá numa herdade
Amarrei-as com uma corda
E carreguei-as para cidade

Cheguei com elas a um largo
E logo ao largo se puseram
Foram ter com a família
E com os amigos que ainda o eram

Viram fados, viram viras
Viram canções de revolta
E encontraram bons amigos
Em mais que uma quadra solta

Uma viu um livro chamado
"Este livro que vos deixo"
E reviu velhas amizades
Eram quadras do Aleixo

Ó I ó ai, Há já menos quem se encolha
Ó I ó ai, Muita gente fala e canta
Ó I ó ai, Já se vai soltando a rolha
Que nos tapava a garganta

Ora bem, tinha marcado
Encontro com as quadras soltas
Pois sim, fiquei pendurado
Como um tolo ali às voltas

Chegou uma e disse: Andei
A cumprimentar parentes
E eu aqui a enxotar moscas
Vocês são mesmo indecentes

Respondeu-me: Ó patrãozinho
Desculpe lá essa seca
Estive a beber um copito
Com uma quadra do Zeca

Ó I ó ai, Disse-me um dia um careca
Ó I ó ai, Quando uma cobra tem sede
Ó I ó ai, Corta-lhe logo a cabeça
Encosta-a bem à parede

Das restantes quadras soltas
Não tinha sequer notícia
Dirigi-me a uma esquadra
E descrevi-as a um polícia

Respondeu-me: Com efeito
Nós temos aqui retida
Uma quadra sem papéis
Que encontramos na má vida

Diz que é uma quadra oral
Sem identificação
Que uma quadra popular
Não precisa de cartão

Se diz que pertence ao povo
O povo que venha cá
Que eu quero ver a licença
O registo e o alvará

Ó I ó ai, Quando se embebeda o pobre
Ó I ó ai, Dizem, olha o borrachão
Ó I ó ai, Quando se emborracha o rico
Acham graça ao figurão

Fui com a quadra popular
À procura da restante
Quando o polícia de longe
Disse: Venha aqui um instante

Temos aqui uma outra
Não sei se você conhece
Desrespeita autoridades
E diz o que lhe apetece

Tem uma rima forçada
E palavras estrangeiras
E semeia a confusão
Entre as outras prisioneiras

Se for sua, leve-a já
Que é pior que erva daninha
Olhe bem para ela: É sua?
Olhei bem para ela: É minha!

Ó I ó ai, Nós queremos é justiça
Ó I ó ai, E dinheiro para o bife
Ó I ó ai, E não esta cóboiada
Em que é tudo do sherife

Até ver!

Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado Domingo!
Vai a malta passear.
Sete dias na semana, e um só p'ra descansar.
Sete dias na semana, e um só p'ra descansar.

Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado Domingo!
Vai a malta passear.
Sete dias na semana, e um só p'ra descansar.
Sete dias na semana, e um só p'ra descansar.

Segunda-feira, namorei a Rosalina.
Na Terça-feira, telefonei à Miquelina.
Na Quarta-feira, encontrei a Manuela.
Na Quinta-feira, fui ter com a Felizbela.
Na Sexta-Feira, telefonei à Ivone (ahhh)
E no Sábado (ah ah), estive com a Olga.
E ao Domingo? Ao Domingo estou de folga.
Ora vejam lá (ah ah), ora vejam lá, ora vejam lá
Sorte como estas não há (ai pois não)
Ora vejam lá, ora vejam lá, ora vejam lá,
Sorte como estas não há.

Sim, o amor é vão
É certo e sabido
Mas então (porque não) porque sopra ao ouvido
O sopro do coração
Se o amor é vão
Mera dor
Mero gozo
Sorvedouro caprichoso

No sopro do coração...

Mas nisto o vento sopra doido
E o que foi do corpo num turbilhão
Sopra doido
E o que foi do corpo alado nas asas do turbilhão
Nisto já nem de ar precisas
Só meras brisas,
Raras
Raras
Raras

Corto em dois limão
Chego ao ouvido
Ao frescor
Ao barulho
À acidez do mergulho

No sangue do coração
Pulsar em vão
É bem dele
É bem isso
E apesar disso eriça a pele

No sopro do coração...

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