Mesa na Casa da Música

Luz vaga, luz vesga, a tua cruz
Já não sai da cama, a minha luz
Da sala, do quarto

Pilha a palavra
Troca a quantidade, do assunto modal
A tensão está normal
O lábio fora da boca,
A boca fora do mal

Os teus olhos não são de gente
O teu ar foge para cima
Tens a perna no cimento,
Tens a mão no pensamento

Ciclope, cicloturismo
Na parte de fora, na nesga do abismo
Imaginário que remete, para onde ainda não fui

Convite ao Universo
Com a tua própria câmara
Fecho a luz num olho
Prego a tábua à sensação

Som da casa, quando não estás...

Dancei para te ver aqui,
eu sei que nada mais pode me ajudar
É do nono andar? Sim
Quis pedir ajuda, mas a língua estava morta
Sei lá! Parei de olhar,
tenho uma corda acesa, prestes a queimar
Não és capaz de me levar a sério.
Vou saltar em teu lugar.

Sei que nada mais pode me ajudar

Atrasa o passo
Leva o lenço à boca
Fica na mira do choque frontal
Não é doença, é um animal
Um ruído feito no acto de fingir
seres mau, mesmo a dormir

Amigos como sempre
Dúvidas daqui pra frente
sobre os seus propósitos
é difícil não questionar.
Canto do telhado para toda a gente ouvir
os gatos dos vizinhos gostam de assistir.

Enquanto a musica não me acalmar
não vou descer, não vou enfrentar
o meu vício de ti não vai passar
e não percebo porque não esmorece
ao que parece o meu corpo não se esquece.

Não me esqueci, não antevi, não adormeci, o meu vício de ti

Levei-te à cidade, mostrei-te ruas e pontes
Sem receios atrai-te as minhas fontes
Por inspiração passamos onde mais ninguém passou
Ali algures algo entre nós se revelou.

Enquanto a música não me acalmar
não vou descer, não vou enfrentar
o meu vício de ti não vai passar
não percebo porque não esmorece
será melhor deixar andar
Será melhor deixar andar

Não me esqueci, não antevi, não adormeci, o meu vício de ti

Eu canto a sós pra cidade ouvir
e entre nós há promessas por cumprir
mas sei que nada vai mudar
o meu vício de ti não vai passar, não vai passar...

Estou além sono, num sonho de papel, fio de ópio, sombra chinesa tatuada no céu.
Hoje não me apetece ser do contra, uma enfant terrible.
Quero apenas os novos códigos, quero apenas entrar e participar.
Cruzar-me num sonho que seja possivel para ambos.

És o meu Anjo da Guarda e eu dou-te trabalho...
Tu és o meu "Homem-Livro", o meu agasalho:
que lê para mim todas as noites, que me levanta sempre que caio.
Como eu gostava de retribuir. Como eu gostava de aprender a pedir.

Quando as palavras não dizem o que somos.

A cidade está submersa numa manhã chuvosa.
Pântanos e dinossauros tomam de assalto as avenidas.
A menina tem insónias e só às vezes dorme.
Desaparece e acorda com fome e acorda com fome.
Esta é a minha nova dor. Diz-lhe olá, não a faças esperar.

Quando as palavras não dizem o que somos.
Gastamos em tinta o que prometemos em sonhos.
Quando as palavras não dizem o que somos.

Oh! Meu Anjo da Guarda, eu sei que te dou trabalho.
Eu e tu somos iguais... eu queria tanto fazer-te feliz...
Não esperes que eu consiga mudar da noite para o dia

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