Cara de Espelho

A bailar de caraça
Ao toque da caixa Ó
No meio da praça
Ele saiu da marcha, Ai
Onde é que ele vai?
Quem é que ele é?

Os putos de roda
Puxam lhe os farrapos, Ei
Alguns homens fortes
Agarram-lhe os braços, Ó
Não tenham dó
Que estranho, é

Vejam que cara tão crua
Que não é a sua
E anda na rua
A dizer “Ah,
Ó pra mim! Ó pra mim!
Com a cara que é tua!
Ó pra mim! Ó pra mim!
Com a cara que é tua!”

O cara de espelho
Assim baptizado, Ei
Tem os defeitos
Dos outros espelhados, Ui
Um padre foi
Para o expurgar
Mas vendo o seu rosto Espelhou-se o demónio, Ai
Berrou o padre
Foi um pandemónio, Ei
E veio a lei
P ́ra condenar

Vejam que cara tão crua
Que não é a sua
E anda na rua
A dizer “Ah,
Ó pra mim! Ó pra mim!
Com a cara que é tua!
Ó pra mim! Ó pra mim!
Com a cara que é tua!”

Com pouca justiça
O juiz com malícia, Ai
Muniu a polícia
Com pedras e fisgas, Ui
E eu também fui
Para contar

O monstro que vimos
Era aterrador, Ai ai
Em cacos partimos
O espelho e agora eu sei, Que cara tem
Quem vai matar

Vejam que cara tão crua
Que não é a sua
E anda na rua
A dizer “Ah,
Ó pra mim! Ó pra mim!
Com a cara que é tua!
Ó pra mim! Ó pra mim!
Com a cara que é tua!”

Separando o africano do cigano
Do chinês, do indiano, ucraniano,
muçulmano, do romeno ou tirolês
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá

Separando o cristão do taoista,
do judeu do islamita, do ateu ou do budista,
do baptista mirandês
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá

E que tal juntar a malta numa boa
A um corridinho de Lisboa
Volta e meia e roda o par
Triste é quem fica a ver dançar

Separando o celta do visigodo,
O huno do ostrogodo, o romano do suevo, ou o mouro do gaulês
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá

Se tu queres ainda separar o gay,
Da lésbica, do straight, da mulher, gente de bem,
Ou de quem sofre de gaguez
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá

E que tal juntar a malta numa boa
A um corridinho de Lisboa
Volta e meia e roda o par
Triste é quem fica a ver dançar

Ora tenta separar o teu genoma,
tu tens tanto de Lisboa como de Rabat ou Doha,
tudo soma no que és
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá

Se ainda te faz muita confusão
Vai, separa o fótão do protão, do electrão
Até desvaneceres de vez
Como vês
Sobra muito, muito pouco português, ó pá

E que tal juntar a malta numa boa
A um corridinho de Lisboa volta e meia e roda o par
Pois...

Esta Lisboa batida a batuque
De tuk em tuk
Lá vai
O jacarandá floriu outra vez Fado em chinês
É “Soh Hai”

Estou num bailarico
No Fadistão Cerveja e vinho, sardinha no pão

Esta Lisboa de burca e all star Ó santo Buda
Ó Jah
Varina angolana
Havaiana no pé
Berra a fadista
“Yé yeah yeah”

Estou num bailarico
No Fadistão
Cerveja e vinho,
sardinha no pão

Esta Lisboa já bomba bué
Tem a sua cena
Pois é
E que te encontre mais vezes por cá Meu manjerico
Oxalá

Estou num bailarico
No Fadistão
Cerveja e vinho,
sardinha no pão

O dr coisinho
Vem coisificar o medo
Ai ó mulher é branco
Ai ó mulher é preto

O dr coisinho
Vem quantificar o erro
Ai ó qu ́ele é cigano
Ai ó qu ́ele é o demo

O dr coisinho
Sai de baixo do penedo
O dr coisinho
Vem atiçar o mostrengo
Encarna o maluquinho
Saudosista, lazarento

Ó dr coisinho
Coisifique aqui o dedo!

O dr coisinho
Vem clarificar coisinhas
Ai ó qu’ele é drogado
Ai ó qu’ ele é maricas

O dr coisinho
Vem vociferar o espanto
Ai ó mulher é preto
Aí ó mulher é branco

O dr coisinho
Quer reabrir o degredo
O dr coisinho
Só atrai pra si mosquedo
É um le penesinho
Pequenino, de brinquedo

Ó dr coisinho
Coisifique aqui dedo!

O dr coisinho
Sai debaixo de um penedo
O dr coisinho
Vem coisificar o medo
O dr coisinho
Saudosista, lazarento

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