Luta Livre nos Aliados

Aumenta a renda
O seguro
E a propina
O autocarro
E a senha da cantina
Aumenta a massa, o arroz e o feijão
Aumenta o gás na panela de pressão

A crise aumenta
E o povo não aguenta

Queima de carvão, petróleo e gás
desflorestação, actividade pecuária,
uso intensivo de fertilizantes
Negligência dos nossos governantes
Gula, ganância, cobiça
Verões escaldantes, contas na Suíça
Crise alimentar, paraísos fiscais
tempestades tropicais

Milhares de espécies em risco de extinção
oceanos em acidificação
morrem os recifes de coral
desaparecem os grandes glaciares
é inevitável a subida dos mares
geram-se ondas de calor fatais
Mais secas, mega fogos florestais

Vem aí um futuro de extremos,
todos sabemos
que é preciso mudar
Mas quem manda nisto tudo
diz que não temos
Com que nos preocupar

podemos ter prosperidade
ou o fim da humanidade,
é tão grande a variedade
como a nossa ambição
Enquanto o crescimento for
o único objectivo do sistema,
temos um problema!

RESOLVE O PROBLEMA, BOICOTA O SISTEMA!
LUTAR, CRIAR, PODER POPULAR!
NÃO ME OBRIGUEM A VIR PARA A RUA GRITAR!

E agora, o que eu faço?
Fico aqui a marcar passo ou vou para fora?
Diga lá Sr. Ministro, porque é que eu não passo disto?
Pese embora
Tenho boa formação
E até sei cantar o fado noite fora
Diga lá Sr. Ministro, porque é isto está errado?
Um T Zero no Barreiro custa mais que um ordenado

Ainda não havia Fnacs nem picnic do Tony,
o Pingo Doce era Pão de Açúcar
e as padarias eram mesmo portuguesas.

Ainda o Aníbal era primeiro ministro,
o Zé estudava engenharia
e o Pedro nem sonhava que viria um dia a ser fadista.

Ainda o João Pinto jogava no Benfica,
era o tempo de ir ao Johny Gritar
e os jornais tinham todos suplementos de música.

Ainda a televisão passava tele-discos,
o rock era em Alvalade e em Cascais
e os festivais, faz atenção: só havia o da canção.

VIRA MALHÃO!

Ainda não havia telemóveis,
o Cais do Sodré não era cor de rosa
e as redes sociais palmilhavam-se a pé.

Ainda conseguia ir a Belém comer um pastelinho,
passear no 28
e alugar casa em Lisboa.

Ainda a internet se chamava Esotérica
A globalização era o chinês do Bairro
E o DN ainda morava na Avenida

Ainda no Chiado se falava português
Camones era só em Albufeira
o povo não andava de avião,
e sushi era no Japão.

VIRA MALHÃO!

Ainda os livros eram feitos em papel
tablet era um chocolate.
e cinema era no King, sempre à segunda feira

Comprávamos CDs a três contos,
ninguém sabia bem o que era pimba
e já o Quim dava aulas em Coimbra.

Ainda ninguém sabia bem o que era a Expo
tuk tuks e Web Summit
mas já havia reuniões da Tupperware elite
2x

Ainda conseguia ir a Belém
comer um pastelinho,
passear no 28
e alugar casa em Lisboa
camones era só em Albufeira
o King sempre à segunda feira
ainda o DN morava na Avenida
o Cais Sodré não era cor de rosa
Festivais, só havia o a da canção
e Sushi era no Japão.

Ele não é empregado da aplicação
Ele não trabalha na restauração
Ele não pertence à organização
Ele é precário,
sem contrato nem horário
patrão do escravo, ESCRAVO DO PATRÃO

Ele não desconta para o sistema de reforma
quando for velho não vai ter pensão
Ele é explorado pela plataforma
Ele é precário, sem contrato nem horário
patrão do escravo, ESCRAVO DO PATRÃO

Ele não sabe o que são fins de semana
Só pára de bulir por exaustão
Ele não tem direito a folga
Ele é precário, sem contrato nem horário
patrão do escravo, ESCRAVO DO PATRÃO

Ele não está inscrito num sistema de saúde
Se fica doente não tem protecção
paga do seu bolso a medicação
Ele é precário, sem contrato nem horário
patrão do escravo, ESCRAVO DO PATRÃO

Sai, anda, pedala
Carrega a mala,
o cliente quer jantar.
Sobe e desce a avenida
Faz-te à vida
Tens contas a pagar

Vai, anda, embala
come e cala
Amanhã tens que almoçar
Sobe, desce a avenida
Faz-te à vida
O cliente quer jantar

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