A cantiga é uma arma
E eu não sabia
Tudo depende da bala
E da pontaria
Tudo depende da raiva
E da alegria
A cantiga é uma arma
De pontaria
Força é reconhecer
Que a morte, quando escolhida
É uma espécie de antever
A vida dentro da vida
É parecida
Só parecida
Com a vida por viver
Num jardim quadrangular
À vista do oceano
Pode perder-se o olhar
Na praia do desengano
É humano
Sobre-humano
É ter um canto p'ra salvar
De pé meu canto não te rendas
Saúda o mestre das oferendas
Canta, canta, coração
Que o poeta só te dá o que lhe dão
De pé memória do futuro
Há sempre luz ao fim do escuro
Numa ilha só morre o que lá está
O que conta no que foi, é o que será
É bem pobre condição
Render-se ao desespero
E ver só morte na mão
Direita de Antero
O que eu quero
Porque quero
É negar a negação
Há uma ausência feroz
Que veste a nossa mágoa
E esquecemos que é por nós
Que a fonte deita água
Mas eu trago-a
Sim eu trago-a
É a razão da minha voz
De pé meu canto não te rendas
Saúda o mestre das oferendas
Canta, canta, coração
Que o poeta só te dá o que lhe dão
De pé memória do futuro
Há sempre luz ao fim do escuro
Numa ilha só morre o que lá está
O que conta no que foi, é o que será
Num jardim quadrangular
À vista do oceano
Pode perder-se o olhar
Na praia do desengano
É humano
Sobre-humano
É ter um canto p'ra salvar
De pé meu canto não te rendas
Saúda o mestre das oferendas
Canta, canta, coração
Que o poeta só te dá o que lhe dão
De pé memória do futuro
Há sempre luz ao fim do escuro
Numa ilha só morre o que lá está
O que conta no que foi, é o que será
Há um fogo enorme no jardim da guerra
E os homens semeiam fagulhas na terra
Os homens passeiam co´os pés no carvão
que os Deuses acendem luzindo um tição
Pra apagar o fogo vêm embaixadores
trazendo no peito água e extintores
Extinguem as vidas dos que caiem na rede
e dão água aos mortos que já não têm sede
Ao circo da guerra chegam piromagos
abrem grande a boca quando são bem pagos
soltam labaredas pela boca cariada
fogo que não arde nem queima nem nada
Senhores importantes fazem piqueniques
churrascam o frango no ardor dos despiques
Engolem sangria dos sangues fanados
E enxugam os beiços na pele dos queimados
É guerra de trapos no pulmão que cessa
do óleo cansado que arde depressa
Os homens maciços cavam-se por dentro
e o fogo penetra, vai directo ao centro
Eh companheiro, aqui estou
Aqui estou pra te falar
Estas paredes me tolhem
Os passos que quero dar
Uma é feita de granito, não se pode rebentar
Outra de vidro rachado pras duas pernas cortar
Eh companheiro, resposta
Resposta te quero dar
Só tem medo desses muros quem tem muros no pensar
Todos sabemos do pássaro cá dentro a querer voar
Se o pensamento for livre, todos vamos libertar
Lalá lalá lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Eh companheiro, eu falo
Eu falo do coração
Já me acostumei à cor
Desta negra solidão
Já o preto que vai bem, já o branco ainda não
Não sei quando vem o vento pra me levar de avião
Eh companheiro, respondo
Respondo do coração
Ser sozinho não é sina nem de rato de porão
Faz também soprar o vento, não esperes o tufão
Põe sementes do teu peito nos bolsos do teu irmão
Lalá lalá lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Eh companheiro, vou falar
Vou falar do meu parecer
Vira o vento, muda a sorte
Toda a vida ouvi dizer
Soprou muita ventania, não vi a sorte crescer
Meu destino é sempre o mesmo
Desde moço até morrer
Eh companheiro, aqui estou
Aqui estou pra responder
Sorte assim não cresce à toa como urtiga por colher
Cresce nas vinhas do povo, leva tempo a amadurecer
Quando mudar seu destino está ao alcance de um viveiro
Lalá lalá lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Eh companheiro, aqui estou
Aqui estou pra te falar
De toda parte me chamam
Não sei pra onde me virar
Uns que trazem fechaduras com portas para espreitar
Outros que em nome de paz, não me deixam nem olhar
Eh companheiro, resposta
Resposta te quero dar
Portas assim foram feitas pra se abrir de par em par
Não confundas duas coisas, cada paz em seu lugar
Pela paz que nos recusam, muito temos de lutar
Lará lará lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Lá, lará lará lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Lá, lará lará lará laralalá
Lará lará lará laralalá
Comentários
Enviar um comentário