Mafalda Veiga na Póvoa de Varzim

A noite vem às vezes tão perdida
E quase nada parece bater certo
Há qualquer coisa em nós inquieta e ferida
E tudo que era fundo fica perto

Nem sempre o chão da alma é seguro
Nem sempre o tempo cura qualquer dor
E o sabor a fim do mar que vem do escuro
É tantas vezes o que resta do calor

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Trocamos as palavras mais escondidas
E só a noite arranca sem doer
Seremos cúmplices o resto da vida
Ou talvez só até amanhecer

Fica tão fácil entregar a alma
A quem nos traga um sopro do deserto
Olhar onde a distância nunca acalma
Esperando o que vier de peito aberto

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Todas as coisas passam
Todas as coisas vão
Todas as coisas nos arrebatam
Ou pousam leves no coração

Todas as coisas concretas
Se tornam vagas ou não
Todas as coisas eternas
Morrem sem qualquer razão

Todas as coisas são nossas
Todas as coisas não são
Todas as coisas são nossas
Todas as coisas não são

Todas as coisas passam
Todas as coisas vão
Todas as coisas nos arrebatam
Ou pousam leves no coração

Todas as coisas concretas
Se tornam vagas ou não
Todas as coisas eternas
Morrem sem qualquer razão

Todas as coisas são nossas
Todas as coisas não são
Todas as coisas são nossas
Todas as coisas não são

Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós se precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera

Houvesse um canto para se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse como um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade
Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete
E é tudo tão fugaz e tão breve

Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar

E é tudo tão fugaz e tão breve
Como os reflexos da lua no rio
Tudo aquilo que se agarra e já fugiu
É tudo tão fugaz e tão breve

Levo tudo o que preciso para ir
Levo o meu Moleskine de estimação
Uma biografia do James Dean
Com a capa já rasgada por tanta dedicação

Levo o que quero deixar pelo caminho
O silêncio dos poemas que não fiz
E as certezas que rasguei devagarinho
Para ir sabendo ao certo o que é de mim

Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar
Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar

Levo lutas pr'acalmar-me a madrugada
Entre estrelas e planetas e luares
E um mapa desenhado numa folha amarrotada
Que fizeste pra saber como voltar

Levo o cheiro do teu corpo no meu corpo
Como sal colado à pele na maré vaza
Procurei pelo caminho em cada canto
Mas por dentro é onde fica a minha casa

Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar
Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar

Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar
Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar

Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar
Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar

Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar
Eu vou, que a praia chama
E o meu coração precisa de mar

Eu vou porque o meu coração precisa de mar
Eu vou porque o meu coração precisa de mar

Esta é só uma noite para partilhar
Qualquer coisa que ainda podemos
Guardar cá dentro, um lugar a salvo
Para onde correr

Quando nada bate certo
E se fica a céu aberto
Sem saber o que fazer

Esta é uma noite pra comemorar
Qualquer coisa que ainda
Podemos salvar do tempo
Um lugar pra nós onde demorar

Quando nada faz sentido
E se fica mais perdido
E se anseia pelo abraço de um amigo

Esta é só uma noite para me vingar
Do que a vida foi fazendo sem nos avisar
Foi-se acumulando em fotografias

Em distâncias e saudade
Numa dor que nunca acaba
E faz transbordar os dias

Esta é uma noite para me lembrar
Que há qualquer coisa infinita
Como o firmamento

Um sorriso, um abraço
Que transcende o tempo
E ter medo como d'antes
E acordar a meio da noite
A precisar de um regaço

Esta é só uma noite para partilhar
Qualquer coisa que ainda podemos
Guardar cá dentro, um lugar a salvo
Para onde correr

Quando nada bate certo
E se fica a céu aberto
Sem saber o que fazer

Esta é uma noite pra comemorar
Qualquer coisa que ainda
Podemos salvar do tempo
Um lugar pra nós onde demorar

Quando nada faz sentido
E se fica mais perdido
E se anseia pelo abraço de um amigo

Esta próxima, esta próxima canção
É a que eu mais gosto de vos ouvir cantar

Geme o restolho, triste e solitário
A embalar a noite escura e fria
E a perder-se no olhar da ventania
Que canta ao tom do velho campanário

Geme o restolho, preso de saudade
Esquecido, enlouquecido, dominado
Escondido entre as sombras do montado
Sem forças e sem cor e sem vontade

Geme o restolho, a transpirar de chuva
Nos campos que a ceifeira mutilou
Dormindo em velhos sonhos que sonhou
Na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
Semear no pó e voltar a colher
Há que ser trigo, depois ser restolho
Há que penar para aprender a viver

E a vida não é existir sem mais nada
A vida não é dia sim, dia não
É feita em cada entrega alucinada
Pra receber daquilo que aumenta o coração

Geme o restolho, a transpirar de chuva
Nos campos que a ceifeira mutilou
Dormindo em velhos sonhos que sonhou
Na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
Semear no pó e voltar a colher
Há que ser trigo, depois ser restolho
É preciso penar para aprender a viver

E a vida não é existir sem mais nada
A vida não é dia sim, dia não
É feita em cada entrega alucinada
Pra receber daquilo que aumenta o coração

O bando debandou
subindo do arvoredo
do vácuo que ficou
no fim do seu degredo
as asas abrem chagas
no acinzar do entardecer
e amansam a agonia
do dia a escurecer

ensombram a ribeira
e o verde da seara
e passam pela eira
em que o sol se pousara
nas gotas do orvalho
luarento e vacilante
refrescam o cansaço
e dormem um instante

Pássaros do sul
bando de asas soltas
trazem melodias
p'ra cantar às moças
em noites de romaria
em noites de romaria

no adejo da alvorada
oscila a minha mágoa
o céu à desgarrada
irrompe azul na água
e a passarada acorda
no sonhar de um camponês
e entrega-se no sul
do frio que à noite fez

é tempo da partida
e a cor no horizonte
adensa a despedida
e o borbotar da fonte
as asas abrem chagas
na poeira o sol acalma
num agitar inquieto
que me refresca a alma

pássaros do sul
bando de asas soltas
trazem melodias
pra cantar às moças
em noites de romaria
em noites de romaria

Por mais que a vida nos agarre assim
Nos troque planos sem sequer pedir
Sem perguntar a que é que tem direito
Sem lhe importar o que nos faz sentir

Eu sei que ainda somos imortais
Se nos olhamos tão fundo de frente
Se o meu caminho for por onde vais
A encher de luz os meus lugares ausentes

É que eu quero-te tanto
Não saberia não te ter
É que eu quero-te tanto
É sempre mais do que eu te sei dizer

Mil vezes mais do que eu te sei dizer
Por mais que a vida nos agarre assim
Nos dê em troca do que nos roubou
Às vezes fogo e mar, loucura e chão
Às vezes só a cinza que sobrou

Eu sei que ainda somos muito mais
Se nos olhamos tão fundo de frente
Se a minha vida for por onde vais
A encher de luz os meus lugares ausentes

É que eu quero-te tanto
Não saberia não te ter
É que eu quero-te tanto
É sempre mais do que eu te sei dizer

É que eu quero-te tanto
Não saberia não te ter
É que eu quero-te tanto
É sempre mais do que eu te sei dizer
Mil vezes mais do que eu te sei dizer
Mil vezes mais do que eu te sei dizer

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