João Gil e Luís Represas na Serra do Pilar

DIZ-ME TUDO
DIZ-ME TUDO MEU PAI, SOU TEU FILHO
TODOS DIZEM, AGORA É UM SARILHO TENHO DEZOITO, JÁ SOU MAIOR
O QUE VAI SER ?

COMO VAI SER?
NÃO É SEGREDO
O QUE VAI SER? JÁ NÃO É TEU.
DEBAIXO DESTE ESCURO CÉU

DIZ-ME COISAS DE TI E DA TERRA
SEREI UM SOLDADINHO NESTA GUERRA
ENTRE O MATAR E O MORRER
TEREI DE SOBREVIVER

COMO VAI SER?
NÃO É SEGREDO
O QUE VAI SER? JÁ NÃO É TEU.
DEBAIXO DESTE ESCURO CÉU

O TEMPO É MEU!
É MINHA A HORA!
É MINHA A VEZ
É O MOMENTO!

COMO VAI SER?
COMO É LÁ FORA?
DEBAIXO DESTE ESCURO CÉU.

Luz sai da frincha, é manhã
Sei que o dia já desarvora
Chave dos sonhos na mão
Olho-te e vais embora

Sais pela rua velo
Sinto a brisa do teu corpo perto
Chave dos sonhos guardei
No quarto já deserto

Passei a noite em claro
Passei p´la noite em ti
E abri com a chave dos sonhos
A porta e a varanda que em sonhos abri

São mais confusas agora
As imagens que em ti eu tocava
Eram do sonho ou de olhar
O que o prazer mostrava ?

Chave dos sonhos na mão
Entrarei em qualquer fechadura
P´ra lá da porta, o melhor
É sempre da aventura

Guardo com a chave dos sonhos
Segredos que o corpo merece
Se alguém não quis arriscar
Então que o não tivesse

Ontem arriscaste mais
Do que uma simples coisa exigia
Deste-me a chave dos sonhos
O caos e a harmonia

Pedi-te à Terra
e não deu
Pedi-te ao Astro
e não deu
Pedi-te a Deus
e não deu
Se ninguém deu, eu roubei
E lá vou eu...

E lá vou eu, fora-da-lei,
à pendura num cometa,
tocando a minha corneta,
batendo no meu tambor
Para a Terra, o Astro e Deus
ficarem a sabendo que eu
roubei o meu grande amor.

Para cá de onde dorme o sol
Eu fico todas as tardes
A ver se ele se vai embora
E me deixa confiado
Às memórias de outrora
Em que levantámos tendas
Soprámos canções de guerra
Semeámos nesta terra
Novos sonhos que ainda agora
Parecem sonhar de novo

Sagres, tu sabes, como se arma um coração
Agarrámos uma vida, desatámos a paixão
Oh Sagres, tu sabes, na ponta da solidão

No palco de uma fogueira
Entre risos de medronhos
Fomos as noites dos loucos
Escondidos nas piteiras
E os beijos não foram poucos
A noite não tinha céu
O dia não tinha chão
O tempo não tinha cara
E o mar tomáva-nos conta
Dos cinco dedos da mão

As ruas da minha cidade abriram os olhos de encanto para te ver passar
As pedras calaram os passos e as casas abriram janelas só para te ouvir cantar
Porque há muito muito tempo não vinhas ao teu lugar
Ninguém sabia ao certo onde te procurar
Da próxima vez não vás sem deixar destino ou direcção
Se houver próxima vez não esqueças leva contigo recordação
E um beijo pendurado ao peito do teu coração
Quisemos saber como estavas, se a vida tinha tomado bem conta de ti
Ou se a vida teve medo e eras tu que a levava refugiada em ti
Cada verão que passava sentiamos-te chegar
Como era possível que o sol se atrevesse a brilhar
Da próxima vez não vás sem deixar destino ou direcção
Se houver próxima vez não esqueças leva contigo recordação
E um beijo pendurado ao peito do teu coração
Deves trazer tantas histórias, tantas que algumas ficaram caídas por ai
Outras, eu tenho a certeza, o teu fogo na alma queimou, deixaram de existir
Só queremos saber se és a mesma que vimos partir
Não existe mundo lá fora que te possa destruir
Da próxima vez não vás sem deixar destino ou direcção
Se houver próxima vez não esqueças leva contigo recordação
E um beijo pendurado ao peito do teu coração

Pai, ensina-me a pôr as letras a eito
Que eu quero escrever uma carta importante
A pedir umas coisas que davam jeito
E uma ou outra delirante

Pai, "Alice" é com cê ou dois ésses?
E "pião" leva uma cobrinha no á?
Não te rias, dá-me ajuda, não comeces
Mais sério que isto não há

Ó meu querido Pai Natal
Vou-te dizer
As coisas que nunca disse
Não sou mau e nem sou duro de roer
Fala de mim à Alice
E se ela mandar dizer
Que não, que não
Não me deixes amuado
Tira da saca o mais bonito pião
E está tudo perdoado

Pai, achas que estou pedindo a mais?
O das barbas tem muito a quem atender
Se eu fiquei em branco nos outros natais
Ainda lhe peço uma flober

Já lá vem de porta em porta o carteiro
A recolha das cartinhas com pedidos
O meu é do mais sincero e verdadeiro
Haja quem me dê ouvidos

Ó meu querido Pai Natal
Vou-te dizer
As coisas que nunca disse
Não sou mau e nem sou duro de roer
Fala de mim à Alice
E se ela mandar dizer
Que não, que não
Não me deixes amuado
Tira da saca o mais bonito pião
E está tudo perdoado

Apenas um teu sorriso
Apenas um teu olhar
O código que autorizo
A senha para entrar
Gosto de ti
Quando és razoável
Gosto de ti
Volátil e maleável
E só assim é viável
Fazer um sisudo amável
Levo-te a cem
Tu pões-me alerta
Levas-me a bem
Como ninguém
Dá-me o teu sim
Que eu nunca sei dizer não
Dá-me o teu dom
Que eu dou-te o meu coração
Dá-me o teu sim
Que eu nunca sei dizer não
Dá-me o teu dom
Que eu dou-te o meu coração
Gosto de ti
Quando és razoável
Gosto de ti
Volátil e maleável
E só assim é viável
Fazer um sisudo amável
Levo-te a cem
Tu pões-me alerta
Levas-me a bem
Como ninguém
Dá-me o teu sim
Que eu nunca sei dizer não
Dá-me o teu dom
Que eu dou-te o meu coração
Dá-me o teu sim
Que eu nunca sei dizer não
Dá-me o teu dom
Que eu dou-te o meu coração
Que eu dou-te o meu coração
Dá-me o teu sim
Que eu nunca sei dizer não
Dá-me o teu dom
Que eu dou-te o meu coração
Dá-me o teu sim
Que eu nunca sei dizer não
Dá-me o teu dom

Ser poeta é ser mais alto
É ser maior do que os homens!
Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja
É ter cá dentro um astro que flameja
É ter garras e asas de condor
É ter fome, é ter sede de Infinito
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim
É condensar o mundo num só grito
E é amar-te, assim, perdidamente
E é seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente
E é amar-te, assim, perdidamente
E é seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente
Ser poeta é ser mais alto
É ser maior do que os homens
Morder como quem beija
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja
É ter cá dentro um astro que flameja
É ter garras e asas de condor
E é amar-te, assim, perdidamente
E é seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente
E é amar-te, assim, perdidamente
E é seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente
E é amar-te, assim, perdidamente
E é seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente
E é amar-te, assim, perdidamente
E é seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente

De que noite demorada
Ou de que breve manhã
Vieste tu, feiticeira
De nuvens deslumbrada
De que sonho feito mar
Ou de que mar não sonhado
Vieste tu, feiticeira
Aninhar-te ao meu lado
De que fogo renascido
Ou de que lume apagado
Vieste tu, feiticeira
Segredar-me ao ouvido
De que fontes de que águas
De que chão de que horizonte
De que neves de que fráguas
De que sedes de que montes
De que norte de que lida
De que deserto de morte
Vieste tu feiticeira
Inundar-me de vida
De que noche demorada
O de que breve mañana
Llegaste tu, hechicera
De nubes deslumbrada
De que sueño hecho mar
O de que mar no soñado
Viniste tu, hechicera
Anillarte a mi lado
De que fuego renacido
O de que lumbre apagada
Viniste tu, hechicera
A segrediarme al oído
De que fuente, de que agua
De que suelo y horizonte
De que nieves, de que fraguas
De que sedes, de que montes
De que norte, de que lida
De que desierto de muerte
Viniste tu, hechicera
A inundarme de vida
De que fontes, de que águas
De que chão, de que horizontes
De que neves, de que fráguas
De que sedes, de que montes
De que norte, de que lida
De que desertos de morte
Vieste tu, feiticeira
Inundar-me de vida...

Parava no café quando eu lá estava
Na voz tinha o talento dos pedintes
Entre um cigarro e outro lá cravava
A bica, ao melhor dos seus ouvintes
As mãos e o olhar da mesma cor
Cinzenta como a roupa que trazia
Num gesto que podia ser de amor
Sorria, e ao partir agradecia
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar
Um dia numa sala do quarteto
Passou um filme lá do hospital
Onde o esquecido filmado no gueto
Entrava como artista principal
Comprámos a entrada p'ra sessão
Pra ver tal personagem no écran
O rosto maltratado era a razão
Não aparecer pela manhã
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar
Mudámos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia
Deixámos de tributo a quem lá pára
Um louco a fazer-lhe companhia
E sempre a mesma posse o mesmo olhar
De quem não mede os dias que vagueiam
Sentado lá continua a cravar
Beijinhos às meninas que passeiam.
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

Chegou hoje no correio a notícia
É preciso avisar por esses povos
Que turbulências e ventos se aproximam
Ahhh, cuidado...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

Foi chão que deu uvas, alguém disse
Umas porém colhe-se o trigo, faz-se o pão
E se ouvimos os contos de um tinto velho
Ahhh, bebemos a saudade...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

E vem o dia em que dobramos os nossos cabos
Da roca a S. Vicente em boa esperança
E de poder vaguear com as ondas
Ahhh, saudades do futuro...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

Enquanto foi só um bom momento deu
Enquanto foi só um pensamento meu
Deus, deu só num caso forte a mais.

Enquanto se achava graça ao que se escondeu
E a horas eram mais longas do que a verdade
Fez p'ra ser só outro caso mais.

Enquanto for só ternura de Verão
Eu vou,
Enquanto a excitação der para um carinho
Eu dou.
Traz
Uma leveza
Ah, mas com certeza
Eu dou
Um outro melhor bom dia.

Já trocámos nortadas por vento sul
Enquanto demos risadas foi-se o azul
Nem sei qual deles foi azul demais.

Mas não ficará só a sensação de cor
Nem sei o que o coração irá dizer de cor
Se o Inverno for, depois, duro demais.

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