Ornatos Violeta no Pavilhão Rosa Mota

Como afundar

O amor foi entrando em nós sem mentir
Vi-te erguer no meu suor e subir
Eu senti o amor tocar no avesso da saudade
E com ela a dor de não chorar

E é como ver o chão sob nós
Sentir que é no amor que eu consigo encontrar
O que eu sou

E é como afundar nosso mundo em dor
E não querer acordar

Minha flor, meu sol, eu vou estar sempre aqui
Se eu lembrar a dor será também por ti
Mas eu, eu não vou mudar

E a dor foi entrando em mim sem mentir
Vi-te enfim erguer do chão
E sorrir
Como a construir o meu fim

Estão a bater à porta
Dizem ser teus amigos
Dizem vir da parte interna dos ouvidos

Estranha forma de acordar
que é estar pronto pra dormir
abre a porta e vê se o mundo ainda é teu
cedo vai-nos dar razão
como a vida nos convém
cedo vai arder nas minhas mãos
não vejo um homem para trás
não vejo medo para trás
não vejo portas para trás
meu mal é ver que eu vou bem
todo o mal e todo o bem
cedo voltará a nós
inocente e trágica lição
se uma vida não chegar
hei-de ter cem vidas mais
quantas mais ditar o coração
não vejo estrada para trás
não vejo medo para trás
não há mais nada para trás
estranha forma de acordar
que é estar pronto para dormir
abre a porta e vê se o mundo ainda é teu
cedo vai-nos dar razão
como a vida nos convém
cedo vai arder nas tuas mãos
meu mal é ver que eu vou bem.

Como no fim de uma guerra
Volto a olhar para mim
Hoje acabou mais um dia por cá
O medo não acabou
No meu caixão não há ninguém
Cá fora posso encontrar
Meu sonho é não acordar no fim
Meu sonho é não acordar
Há de encarnar em mim

Como a razão que nos leva
Para bem longe daqui
O vento traz a desordem
E o tempo sopra por ti
No meu caixão não há ninguém
Cá fora posso encontrar
Meu sonho é não acordar o fim
Meu sonho é não acordar
Há de encarnar em mim

Algo em mim há que eu não quero matar
Algo em mim diz que eu não posso acabar
Conta que os sonhos não podem ter fim
Algo em mim há que eu não quero alcançar
Eu já provei dessa casta
Para provar já me basta
Algo em mim há de acabar
Algo em mim há de estar para sempre no sabor

Há de encarnar em mim
Em mim.

Ao ver meu quarto aberto
Alguém entrou
Só no acender da luz
Vê que eu não estou
Eu jurei
Quando eu voltar
Ninguém mais vai entrar
Para sempre eu vou esperar por ti

Pára de olhar para mim
Deixa-me ser alguém
Tão cedo não vais ver ninguém

Ao ver meu quarto aberto
Alguém pensou
Foi para mim que alguém assim o deixou
Para quê mentir
Se eu bem sei
Que não há ninguém igual
Para sempre eu vou esperar por ti

Pára de olhar para mim
Deixa-me ser alguém
Tão cedo não vais ver ninguém

Guardar cá dentro amor
Não nos faz nada bem
Quando cá fora o ódio quer entrar
Fui morar prá paixão
Pois eu sei
Que não há melhor lugar

Pára de olhar para mim
Deixa-me ser alguém
Tão cedo não vais ver ninguém
Eu só quero dar-te alguém melhor

Para ver
Para dar
Para estar
Para ter
Para ir
Pra ouvir
Pra sorrir e entrar
Para rir
Pra voltar
A tentar
Pra sentir
E mudar
Pra voltar a cair
Para me levantar
Para nunca mais tentar
Mentir
Pra crescer
Para amar
Para ser
O lugar
Pra viver
E gostar
De gostar
De viver
Pra fugir
Pra mostrar
Pra dizer
Pra ter paz
Pra dormir
Pra fingir acordar
Para ser
Derramar
Para nunca mais tentar
Mentir

Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma!

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,
E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido!
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!
Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!

Dá notícias do fundo
Como passam teus dias
Diz se a razão nos chega para viver
Se amor nos serve,
Amor não dá de comer
Fico melhor assim
Em todo o caso vai pensando em mim

Se tocámos em alguma coisa
Se me chamas por algum motivo
Se nos podem ver
Se nos podem tocar

Meu desejo
É morrer na paz do teu beijo
Sem futuro
É lutar por um beijo mais puro

Eu vou estar sempre aqui
Nada vai mudar
Sinto-te arder no meu fundo
Eu vou estar sempre aqui
Nada vai mudar
Sinto-te entrar no meu mundo
Fundo

Nós tocámos em algumas coisas
Nós seguimos por alguns sentidos
Se nos podem ver
Não nos podem tocar

Meu desejo
É morrer na paz do teu beijo
Sem futuro
É lutar por um beijo mais puro

Dá-me a tua mão
E vamos ser alguém
A vida é feita para nós!

Sente o nervo da manhã
Vê como vibra para ti
Vai ditar o rumo da razão

Vê como olham para trás
Vê como aguardam tua vez
Do prisma inverso da ascenção
Ascender

E acordei na minha cruz
A mesma carne
A mesma luz
Um nada após a mortificação
E o melhor é que aprendi
A minha luta por aqui
Voltámos a pisar o chão

Dá-me a tua mão
E vamos ser alguém
A vida é feita para nós
Acordar é bom
Mais fácil é dormir
Mas nem dormindo estamos sós

Eu fui tão mau para mim
Eu fui tão pouco para nós
Bem que o meu pai quase me avisou

Eu nasci sem entender
A forma certa de viver
Até que a vida me ensinou
Aprender

O que eu quis mostrar ao mundo
Era tão forte e tão profundo
Eu quase me afoguei na emoção
Visitou-me um velho amigo
Outrora solto em meu umbigo
Eu dei-lhe abrigo na prisão
Só que eu já não sei
Mudou a força da razão
E não fui eu que a mudei
A vida tem um peso para nós
E pesa quando estamos sós

Dá-me a tua mão
E vamos ser alguém
A vida é feita para nós
Acordar é bom
Mais fácil é dormir
Mas nem dormindo estamos sós

O.M.E.M.
Oh mãe!

Foi tão bom para ti
Como foi para mim

Foi tão bom para mim
Como foi para ti
Foi tão bom para mim
Como foi para ti
Foi tão bom para mim
Como foi para ti
Foi tão bom
Como foi para mim
Foi tão bom para mim
Como foi para ti

Dá-me a tua mão
E vamos ser alguém
A vida é feita para nós
Acordar é bom
Mais fácil é dormir
Mas nem dormindo estamos sós

Dá-me a tua mão
E vamos ser alguém
A vida é feita para nós
Acordar é bom
Mais fácil é dormir
Mas nem dormindo estamos sós

Foi como entrar
Foi como arder
Para ti nem foi viver
Foi mudar o mundo
Sem pensar em mim
Mas o tempo até passou
E és o que ele me ensinou
Uma chaga pra lembrar que há um fim

Diz sem querer poupar meu corpo
Eu já não sei quem te abraçou
Diz que eu não senti teu corpo sobre o meu
Quando eu cair
Eu espero ao menos que olhes para trás
Diz que não te afastas de algo que é também teu
Não vai haver um novo amor
Tão capaz e tão maior
Para mim será melhor assim
Vê como eu quero
E vou tentar
Sem matar o nosso amor
Não achar que o mundo é feito para nós

Foi como entrar
Foi como arder
Para ti nem foi viver
Foi mudar o mundo
Sem pensar em mim
Mas o tempo até passou
E és o que ele me ensinou
Uma chaga pra lembrar que há um fim

Tempo de nascer

Eu sei
Eu quis demais
E o sonho nada trás
Sonhar seduz a paz
Eu sei
Eu vi
Em meu crescer
Que eu vou sempre dar a mim

Imploro a luz e sigo sempre à sombra
Imploro a morte e volto à luz

Alguém pensou em mim à boca da varanda
Eu não senti que houvesse alguma razão para amar
Imploro a queda como quem não quer saber

É tempo de nascer devagar
Não quero ver o fim chegar sem eu nascer devagar
Eu não quero ver o fim sem eu nascer

Quando eu sonho eu levo a minha força até ao fim
E quando o sonho acaba cego
Eu olho fundo para mim
E não vejo nada além da tão real ausência de outra luz
E só por ela volto à cruz
À minha cruz

Eu vi meu pai nascer na mesma cama de outros homens
E hoje eu sei
Eu aprendi

Já nada importa agora à luz
Do trago de onde vim.
Se à luz lá fora eu quero que haja luz em mim

É tempo de nascer devagar
Não quero ver o fim chegar
Sem eu nascer devagar
Eu não quero ver o fim sem eu nascer

Vem ver
Quem vi nascer
É filho de outra guerra
No trilho de outra paz

Alguém entrou em mim
Entrego a minha espada
Eu não senti que houvesse alguma razão para amar
Imploro a queda como quem não quer saber

É tempo de nascer devagar
Não quero ver o fim chegar
sem eu nascer devagar
Eu não quero ver o fim sem eu nascer

Fim da canção

Chegámos ao fim da canção,
E paro um pouco pra dormir.
É tarde pra voltarmos atrás,

Já nem há motivo algum para rir...
É como ouvir alguém dizer:
"Vê nessa procura
Uma razão
Pra virar a dor para dentro",
Que é virar o amor para dentro.
Falo de um amar para dentro,
Que é virar a dor para dentro...
Eu vou dizer até me ouvir,
A dor chegou para ficar.
Eu vou parar quando eu sentir;
Não haver motivo algum pra negar
É como ouvir alguém dizer:
"Vê nessa procura
Uma razão
Pra virar a dor para dentro",
Que é virar o amor para dentro.
Falo de um amar para dentro,
Que é virar a dor para dentro..

Pra virar a dor para dentro",
Que é virar o amor para dentro.
Falo de um amar para dentro,
Que é virar a dor para dentro..

Chegámos ao fim da canção
E paro um pouco para dormir...

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