Ana Bacalhau e os seus pataniscas (um deles de Leitão) em Ermesinde

Vida nova
É aquilo que mais quero
Começar do ponto zero
Meu destino refazer

E mimar-me
Pois já farta o menos mal
Quero vida mas com sal
Tenho o sangue a ferver

Estou ciente
Que no mundo em que vivemos
Mais importa o que parecemos
Que o que somos sem fingir
Mas já chega!
Que se lixe a permanente
E o gelinho fluorescente
Basta de me travestir

Quero um destino mais feliz
Cheio de luz tal qual Paris
Sentir que para mim o sol também sorri
Ligar ao que é fundamental
Chutar pra canto o banal
Não abrir mão de ser dona do meu nariz

Acredito
Que isto não é pêra doce
Mas tudo que é bom pra tosse
Já me foi dado a provar
E resisto
Por ter fé numa cantiga
O sonho é quem comanda a vida
E eu não paro de sonhar

Quero um destino mais feliz
Cheio de luz tal qual Paris
Sentir que para mim o sol também sorri
Ligar ao que é fundamental
Chutar pra canto o banal
Não abrir mão de ser dona do meu nariz

Sou quem? - que personagem
Qual a vantagem de o ser?
Sou eu, outra ou nenhuma -
Serei homem ou mulher?

Sem quem me invente um enredo
Meu medo não é um qualquer
Mas o de acordar de repente
Perdida do que viver

Recolho-me ao meu reduto
Provo o fruto que dou só -
Se sozinha é que me encontro
E de longe vejo ao perto
Passo a tratar-me por tu

Amparo o meu braço fraco
Evito ter de mim dó -
Que o meu tempo não é pouco, e
Se do lasso faço força
Posso tratar-me por tu

Passo a tratar-me por tu

Quem vem, quem vejo comigo?
Em mim consigo entender
Um eu, uma outra ou nenhuma
(Mulher, homem, homem, mulher)

Nem tem de existir mistério
Nem critério, nem sequer
Atriz, personagem, enredo
Ou razões para os não ter

Recolhida ao meu reduto
Fico o fruto que dou só -
E é sozinha que o encontro
Quando o longe vejo perto
E passo a tratar-me por tu

Amparada a um braço fraco
Escuso de ter de mim dó
Que o meu tempo ainda é um tanto e
Fazendo do lasso força
Posso tratar-me por tu
Passo a tratar-me por tu

Passo a tratar-me por tu

Nós havemos de nos ver os dois
Ver no que isto dá
Ficar um pouco mais a conversar
Ter a eternidade para nós
Quem sabe jantar
Se tu quiseres, pode ser hoje

Tem de acontecer, porque tem de ser
E o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora

Nós havemos ambos de encontrar
Um destino qualquer
Ou um banquinho bom para sentar
Vai ser tão bonito descobrir
Que no futuro só
Quem decide é a vontade

Tem de acontecer, porque tem de ser
E o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora

Tem de acontecer, porque tem de ser
E o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora

Que seja agora
Que seja agora
Se é pra acontecer
Pois que seja agora

Que seja agora
Que seja agora
Se é pra acontecer
Pois que seja agora

Que seja agora
Que seja agora
Se é pra acontecer
Pois que seja agora

Que seja agora
Que seja a hora
Se é pra acontecer
Pois que seja agora

Navegar navegar
Mas ó minha cana verde
Mergulhar no teu corpo
Entre quatro paredes
Dar-te um beijo e ficar
Ir ao fundo e voltar
Ó minha cana verde
Navegar navegar

Quem conquista sempre rouba
Quem cobiça nunca dá
Quem oprime tiraniza
Naufraga mil vezes
Bonita eu sei lá

Já vou de grilhões nos pés
Já vou de algemas nas mãos
De colares ao pescoço
Perdido e achado
Vendido em leilão
Eu já fui a mercadoria
Lá na praça do Mocá
Quase às avé-marias
Nos abismos do mar

navegar navegar...

Já é tempo de partir
Adeus morenas de Goa
Já é tempo de voltar
Tenho saudades tuas
Meu amor
De Lisboa
Antes que chegue a noite
Que vem do cabo do mundo
Tirar vidas à sorte
Do fraco e do forte
Do cimo e do fundo
Trago um jeito bailarino
Que apesar de tudo baila
No meu olhar peregrino
Nos abismos do mar

Anda, desliga o cabo,
que liga a vida, a esse jogo,
joga comigo, um jogo novo,
com duas vidas, um contra o outro.

Já não basta,
esta luta contra o tempo,
este tempo que perdemos,
a tentar vencer alguém.

Ao fim ao cabo,
o que é dado como um ganho,
vai-se a ver desperdiçamos,
sem nada dar a ninguém.

Anda, faz uma pausa,
encosta o carro,
sai da corrida,
larga essa guerra,
que a tua meta,
está deste lado,
da tua vida.

Muda de nível,
sai do estado invisível,
põe o modo compatível,
com a minha condição,
que a tua vida,
é real e repetida,
dá-te mais que o impossível,
se me deres a tua mão.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Anda, mostra o que vales,
tu nesse jogo,
vales tão pouco,
troca de vício,
por outro novo,
que o desafio,
é corpo a corpo.

Escolhe a arma,
a estratégia que não falhe,
o lado forte da batalha,
põe no máximo o poder.

Dou-te a vantagem, tu com tudo, eu sem nada,
que mesmo assim, desarmada, vou-te ensinar a perder.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Ó castelos moiros, armas e tesoiros
Quem vos escondeu
Ó laranjas de oiro que ventos de agoiro
Vos apodreceu

Há choros, ganidos, à luz das cavernas
Onde as bruxas moram
Onde as bruxas dançam, quando os mochos amam
E as pedras choram

Caravelas, caravelas
Mortas sob as estrelas
Como candeias sem luz
Os padres da inquisição
Fazendo dos vossos mastros
Os braços da nossa cruz
Caravelas

As bruxas dançam de roda
Entre o visco dos morcegos
Dançam de roda raspando
As unhas podres de tojo
Na noite morta do fogo
Como num tambor de ronjo.

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