Jorge Palma na Avenida dos Aliados

Quero o silêncio do arco íris
Quero a alquímia das estações
Quero as vogais todas abertas
Quero ver partir os barcos
Prenhos de interrogações
Amo o teu riso prateado
Como se a lua fosse tua
Vou pendurar-me nos teus laços
Vou rasgar o teu vestido
Eu quero ver-te nua
Vivemos no tempo dos assassinos
Tempo de todos os hinos
Ouvimos dobrar os sinos
Quem mais jura
É quem mais mente
Vou arquitectar destinos
Sou praticamente demente...
Eu quero ver-te alucinado
Eu quero ver-te sem sentido
Sem passado e sem memória
Quero-te aqui no presente
Eternamente colorido
Porque abomino o trabalho
Se trabalhasse estava em greve
Se isto não te disser tudo
Arranja-me um momento mudo
O menos possível breve
Vivemos o tempo dos assassinos
Tempo de todos os hinos
Ouvimos dobrar os sinos
Quem mais jura
É quem mais mente
Vou arquitectar destinos
Sou praticamente demente...
Amo o teu riso prateado
Como se o Sol só fosse teu
Vou pendurar-me no teu laço
Amachucar-te essa camisa
Como se tu fosses eu
Como se tu fosses eu
Como se tu fosses eu

O tempo não sabe nada, o tempo não tem razão
O tempo nunca existiu, o tempo é nossa invenção
Se abandonarmos as horas não nos sentimos sós
Meu amor, o tempo somos nós
O espaço tem o volume da imaginação
Além do nosso horizonte existe outra dimensão
O espaço foi construído sem princípio nem fim
Meu amor, huuum, tu cabes dentro de mim
O meu tesouro és tu
Eternamente tu
Não há passos divergentes para quem se quer
Encontrar
A nossa história começa na total escuridão
Onde o mistério ultrapassa a nossa compreensão
A nossa história é o esforço para alcançar a luz
Meu amor, o impossível seduz
O meu tesouro és tu
Eternamente tu
Não há passos divergentes para quem se quer
Encontrar
O meu tesouro és tu
Eternamente tu
Eternamente tu

Não estou com grande disposição
P'ra outra enorme discussão
Tu dizes que agora é de vez
Fico a pensar nos porquês
Nós ambos temos opiniões
Fraquezas nos corações
As lágrimas cheias de sal
Não lavam o nosso mal

E eu só quero ver-te rir feliz
Dar cambalhotas no lençol
Mas torces o nariz e lá se vai o sol

Dizes vermelho, respondo azul
Se vou para norte, vais para sul
Mas tenho de te convencer
Que, às vezes, também posso...

Ter razão!
Também mereço ter razão
Vai por mim
Sou capaz de te mostrar a luz
E depois regressamos os dois
À escuridão

Se eu telefono, estás a falar
Ou pensas que é p'ra resmungar
Mas quando queres saber de mim
Transformas-te em querubim
Quero ir para a cama e tu queres sair
Se quero beijos, queres dormir
Se te apetece conversar
Eu estou numa de meditar

E tu só queres ver-me rir feliz
Dar cambalhotas no lençol
Mas torço o meu nariz e lá se vai o sol

Dizes que sou chato e rezingão
Se digo sim, tu dizes não
Como é que te vou convencer
Que, às vezes, também podes...

Ter razão!
Também mereces ter razão
Vai por mim
És capaz de me mostrar a luz
E depois regressamos os dois
À escuridão

Atenção!
Os dois podemos ter razão
Vai por mim
Há momentos em que se faz luz
E depois regressamos os dois
À escuridão

Quando o sol chegou aos subúrbios da cidade
Anunciando mais um dia igual aos outros
Ele acordou e pressentiu
Que hoje o seu dia ia ser diferente
Sentiu nos lábios o sabor
Dum sorriso finalmente triunfante
Escorregou da cama
E contemplou o espelho sorridente
Acabou-se a incerteza dos seus passos em volta
De um sentido que ele nunca encontrou
Pela primeira vez tinha o destino nas mãos
Desta vez ele não duvidou
Sentiu-se invadir por uma estranha lucidez
Que o conduzia pelas calhas do passado
Serenamente descobriu
Que afinal tudo tinha o seu sentido
Levou o olhar á janela
Lá em baixo a rua estava abandonada
Levantou o fecho
E de repente alcançou a liberdade
Acabou-se a angústia dos seus passos em volta
Dum amor com que ele apenas sonhou
Pela primeira vez tinha o futuro nas mãos
Abriu a janela e voou

Põe-me o braço no ombro
Eu preciso de alguém
Dou-me com toda a gente
Não me dou a ninguém
Frágil
Sinto-me frágil
Faz-me um sinal qualquer
Se me vires falar demais
Eu às vezes embarco
Em conversas banais
Frágil
Sinto-me frágil
Frágil
Esta noite estou tão frágil
Frágil
Já nem consigo ser ágil
Está a saber-me mal
Este whisky de malte
Adorava estar in
Mas estou-me a sentir out
Frágil
Eu sinto-me frágil
Acompanha-me a casa
Já não aguento mais
Deposita na cama
Os meus restos mortais
Frágil
Eu sinto-me frágil

Chegaste com três vinténs
E o ar de quem não tem
Muito mais a perder
O vinho não era bom,
A banda não tinha tom,
Mas tu fizeste a noite apetecer.
Mandaste a minha solidão embora,
Iluminaste o pavilhão da aurora,
Com o teu passo inseguro e o paraíso no teu olhar.

Eu fiquei louco por ti,
Logo rejuvenesci,
Não podia falhar!
Dispondo a meu favor
Da eloquência do amor
Ali mesmo à mão de semear
Mostrei-te a origem do bem e o reverso,
Provei-te que o que conta no universo
É esse passo inseguro e o paraíso no teu olhar

Dá-me lume, dá-me lume
Deixa o teu fogo envolver-me, até a música acabar
Dá-me lume, não deixes o frio entrar
Faz os teus braços fechar-me as asas há tanto tempo a acenar

Eu tinha o espírito aberto
Ás vezes andei perto
Da essência do amor
Porém no meio dos colchões
No meio dos trambolhões
A situação era cada vez pior
Tu despertaste em mim um ser mais leve
E eu sei que essencialmente isso se deve
A esse passo inseguro e ao paraíso no teu olhar

Se eu fosse compositor
Compunha em teu louvor
Um hino triunfal
Se eu fosse crítico de arte
Havia de declarar-te
Obra prima à escala mundial
Mas eu não passo de um homem vulgar
Que teve a sorte de saborear
Esse teu passo inseguro e o paraíso no teu olhar

Encosta-te a mim
Nós já vivemos cem mil anos
Encosta-te a mim
Talvez eu esteja a exagerar
Encosta-te a mim
Dá cabo dos teus desenganos
Não queiras ver quem eu não sou
Deixa-me chegar

Chegado da guerra
Fiz tudo pra sobreviver, em nome da terra
No fundo pra te merecer
Recebe-me bem
Não desencantes os meus passos
Faz de mim o teu herói
Não quero adormecer

Tudo o que eu vi
Estou a partilhar contigo
O que não vivi, hei de inventar contigo
Sei que não sei
Às vezes entender o teu olhar
Mas quero-te bem
Encosta-te a mim

Encosta-te a mim
Desatinamos tantas vezes
Vizinha de mim
Deixa ser meu o teu quintal
Recebe esta pomba que não está armadilhada
Foi comprada, foi roubada, seja como for

Eu venho do nada
Porque arrasei o que não quis
Em nome da estrada, onde só quero ser feliz
Enrosca-te a mim
Vai desarmar a flor queimada
Vai beijar o homem-bomba, quero adormecer

Tudo o que eu vi
Estou a partilhar contigo, e o que não vivi
Um dia hei de inventar contigo
Sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
Mas quero-te bem

Encosta-te a mim
Encosta-te a mim
Quero-te bem
Encosta-te a mim

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