Ana Bacalhau e os seus pataniscas na Ilha de Santa Maria

Sou quem? - que personagem
Qual a vantagem de o ser?
Sou eu, outra ou nenhuma -
Serei homem ou mulher?

Sem quem me invente um enredo
Meu medo não é um qualquer
Mas o de acordar de repente
Perdida do que viver

Recolho-me ao meu reduto
Provo o fruto que dou só -
Se sozinha é que me encontro
E de longe vejo ao perto
Passo a tratar-me por tu

Amparo o meu braço fraco
Evito ter de mim dó -
Que o meu tempo não é pouco, e
Se do lasso faço força
Posso tratar-me por tu

Passo a tratar-me por tu

Quem vem, quem vejo comigo?
Em mim consigo entender
Um eu, uma outra ou nenhuma
(Mulher, homem, homem, mulher)

Nem tem de existir mistério
Nem critério, nem sequer
Actriz, personagem, enredo
Ou razões para os não ter

Recolhida ao meu reduto
Fico o fruto que dou só -
E é sozinha que o encontro
Quando o longe vejo perto
E passo a tratar-me por tu

Amparada a um braço fraco
Escuso de ter de mim dó
Que o meu tempo ainda é um tanto e
Fazendo do lasso força
Posso tratar-me por tu
Passo a tratar-me por tu

Passo a tratar-me por tu

Eu queria
Que esta solidão
Me largasse um dia
Por mais que eu sorria
Não sei que fazer
Desisto de querer
E deixo-me ir
Eu deixo-me ir

Fecho os olhos
E sinto o meu pulso
A bater, a bater
Ao som desse som
Que me envolve, revolve
Devolve a vida
Que me escapa da mão
Quando então canto
Não sei para onde vou
E deixo-me ir
Eu deixo-me ir

Sei que um dia
Eu hei-de curar
Esta maldita ferida
Sem dor definida
Com uma canção
Que a leve pela mão
E deixo-a ir
Eu deixo-a ir

E perdida
No leve ondular
De uma vã melodia
Eu sinto a alegria
De dar e de estar
De poder
Pois viver e de ser tudo
Aquilo que posso ser
Não há que temer
Nada a perder
E deixo-me ir
Eu deixo-me ir

Navegar navegar
Mas ó minha cana verde
Mergulhar no teu corpo
Entre quatro paredes
Dar-te um beijo e ficar
Ir ao fundo e voltar
Ó minha cana verde
Navegar navegar

Quem conquista sempre rouba
Quem cobiça nunca dá
Quem oprime tiraniza
Naufraga mil vezes
Bonita eu sei lá

Já vou de grilhões nos pés
Já vou de algemas nas mãos
De colares ao pescoço
Perdido e achado
Vendido em leilão
Eu já fui a mercadoria
Lá na praça do Mocá
Quase às avé-marias
Nos abismos do mar

navegar navegar...

Já é tempo de partir
Adeus morenas de Goa
Já é tempo de voltar
Tenho saudades tuas
Meu amor
De Lisboa
Antes que chegue a noite
Que vem do cabo do mundo
Tirar vidas à sorte
Do fraco e do forte
Do cimo e do fundo
Trago um jeito bailarino
Que apesar de tudo baila
No meu olhar peregrino
Nos abismos do mar

Ó castelos moiros, armas e tesoiros
Quem vos escondeu
Ó laranjas de oiro que ventos de agoiro
Vos apodreceu

Há choros, ganidos, à luz das cavernas
Onde as bruxas moram
Onde as bruxas dançam, quando os mochos amam
E as pedras choram

Caravelas, caravelas
Mortas sob as estrelas
Como candeias sem luz
Os padres da inquisição
Fazendo dos vossos mastros
Os braços da nossa cruz
Caravelas

As bruxas dançam de roda
Entre o visco dos morcegos
Dançam de roda raspando
As unhas podres de tojo
Na noite morta do fogo
Como num tambor de ronjo.

Anda, desliga o cabo,
que liga a vida, a esse jogo,
joga comigo, um jogo novo,
com duas vidas, um contra o outro.

Já não basta,
esta luta contra o tempo,
este tempo que perdemos,
a tentar vencer alguém.

Ao fim ao cabo,
o que é dado como um ganho,
vai-se a ver desperdiçamos,
sem nada dar a ninguém.

Anda, faz uma pausa,
encosta o carro,
sai da corrida,
larga essa guerra,
que a tua meta,
está deste lado,
da tua vida.

Muda de nível,
sai do estado invisível,
põe o modo compatível,
com a minha condição,
que a tua vida,
é real e repetida,
dá-te mais que o impossível,
se me deres a tua mão.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Anda, mostra o que vales,
tu nesse jogo,
vales tão pouco,
troca de vício,
por outro novo,
que o desafio,
é corpo a corpo.

Escolhe a arma,
a estratégia que não falhe,
o lado forte da batalha,
põe no máximo o poder.

Dou-te a vantagem, tu com tudo, eu sem nada,
que mesmo assim, desarmada, vou-te ensinar a perder.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

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