Resistência no Coliseu do Porto

Mais do que a um país
que a uma família ou geração
Mais do que a uma passado
Que a uma história ou tradição
Tu pertences a ti
Não és de ninguém
Mais do que a um patrão
A uma rotina ou profissão
Mais do que a um partido
que a uma equipa ou religião
Tu pertences a ti
Não és de ninguém

Vive selvagem
E para ti serás alguém
Nesta viagem

Quando alguém nasce
Nasce selvagem
Não é de ninguém

Quando alguém nasce
Nasce selvagem
Não é de ninguém
De ninguém

A terra a tremer
O céu a trovejar
E quando as nuvens caírem
Estarei no meu quarto

O país a discutir
O estado a massificar
E quando todos partirem
Estarei no meu quarto

No meu espaço
Fortificado
Ninguém me vai entrar
Fico só
Desligado
A ver de lado o mundo a girar

Fico só
Abraçado
A ver de lado o mundo a girar

No meu quarto fico longe
No meu quarto estou tão perto
No meu quarto apago a luz
E pela sombra viajo no deserto

Vai sem medo
é de novo o começo
que outra vez acontece
o horizonte escurece
faz-se um grande sossego,

Não faz mal, vai sem medo
Não há preto nem branco
Nem há ninguém por perto
Que te possa ajudar

Vai depressa
E parte à descoberta
Porque a noite aparece
Nem há sombras no chão
E é tão grande o segredo

Não faz mal, vai sem medo
Não há preto nem branco
Nem há ninguém por perto
Que te possa guiar

Pensa grande
Num futuro distante
Em que possas mudar
Teu amor encontrar
Num caminho incerto

Não faz mal, vai sem medo
Não há preto nem branco
Nem há ninguém por perto
Só quem vais encontrar
Não faz mal, vai sem medo
Não há preto nem branco
Nem há ninguém por perto
Só quem vais encontrar

Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
o que lá vai já deu o que tinha a dar
quem ganhou, ganhou e usou-se disso
quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
e enquanto alguns fazem figura
outros sucumbem à batota
chega aonde tu quiseres
mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
a gente vai continuar
enquanto houver estrada para andar
enquanto houver ventos e mar
a gente não vai parar
enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
o sistema é antigo e não poupa ninguém
somos todos escravos do que precisamos
reduz as necessidades se queres passar bem
que a dependência é uma besta
que dá cabo do desejo
e a liberdade é uma maluca
que sabe quanto vale um beijo

Enquanto houver estrada para andar
a gente vai continuar...

Há sempre um piano
um piano selvagem
que nos gela o coração
e nos trás a imagem
daquele inverno
naquele inferno

Há sempre a lembrança
de um olhar a sangrar
de um soldado perdido
em terras do Ultramar
por obrigação
aquela missão

Combater a selva sem saber porquê
e sentir o inferno a matar alguém
e quem regressou
guarda sensação
que lutou numa guerra sem razão...
sem razão... sem razão...

Há sempre a palavra
a palavra "nação"
os chefes trazem e usam
pr'a esconder a razão
da sua vontade
aquela verdade

E para eles aquele inverno
será sempre o mesmo inferno
que ninguém poderá esquecer
ter que matar ou morrer
ao sabor do vento
naquele tormento

Perguntei ao céu: será sempre assim?
poderá o inverno nunca ter um fim?
não sei responder
só talvez lembrar
o que alguém que voltou a veio contar... recordar...
recordar...

Nada em terra e céu, nos pode ensinar
o que vai na alma, de alguém que recusa
deitar sobre o chão.
Eu não.

Oh, se te amo
se não tenho
oh, a vergonha
de o dizer.

E nunca esse acaso ou lei, eu entendi
o homem que em vão se agita
tão perto do mundo, tão longe de Deus.
Eu não.

Oh, se te amo
se não tenho
oh, a vergonha
de o escrever.

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