Anaquim | Passos Manuel | Porto


Porto, 8 de Abril.

 

 

Ela acordou tudo de uma vez
Pisou o chão com os dois pés
Para não cair no erro
De insultar superstições
Escolheu um vestido azul
Um azul do mar do sul
Um tom mais que perfeito
Para afogar preocupações
Ao sair soube esconder
Tudo o que era para esquecer
E seguiu alegremente
Sem pensar

 

De vez em quando ela precisa que lhe mintam
Para enfrentar os dias que lhe custam mais
Lembrar que o mundo não é tão mau quanto pintam
Imaginar que os sonhos podem ser reais

 

Pelas ruas não ouviu gritar
Dos berros fez gente a cantar
Canções de sol e esperança
De um imenso musical
Nos jornais deu a volta à dor
Virou-a em histórias de amor
De reis e de princesas
Das que nunca acabam mal
E as tristezas que juntou
Sacudiu-as mal voltou
E deitou-as fora
Junto ao pôr-do-sol.

 

De vez em quando ela precisa que lhe mintam
Para enfrentar os dias que lhe custam mais
Lembrar que o mundo não é tão mau quanto pintam
Imaginar que os sonhos podem ser reais.

 

De vez em quando ela precisa que lhe mintam
Para conseguir sair da cama de manhã
Acreditar que se insistir
Hão-de aparecer
Novos motivos para sorrir
Mesmo que agora seja ainda meio a fingir.

 

De vez em quando ela precisa que lhe mintam
Para enfrentar os dias que lhe custam mais
Lembrar que o mundo não é tão mau quanto pintam
Imaginar que os sonhos podem ser reais.

 

De vez em quando ela precisa que lhe mintam
Para conseguir sair da cama de manhã
Acreditar que se insistir
Hão-de aparecer
Novos motivos para sorrir
Para que um dia nada disto seja a fingir.

 

 

É improvável
Que a gente se encontre é improvável
Que a gente se goste é improvável
Que eu te venha a conhecer
Sempre fui um homem criticável, a apostar no improvável
que há de um dia acontecer
É discutível
Que a gente envelheça é mais plausível
Que a gente se esqueça é pouco crível
Que eu te venha a dar a mão
Sempre fui um homem irascível
a teimar no discutível, só para ganhar a discussão.
Improvável, duvidoso,
um jogo tão perigoso
Ter um 7 e um 2, não ter medo de arriscar.
Improvável, imaturo,
desafiar o teu futuro
Se perder este duelo, vou continuar a jogar!
É fantasia
Querer que tudo dê certo, utopia
Ter-te sempre por perto, alquimia
Perseguir esta ilusão
Sempre fui um homem de manias
a teimar nas utopias
Só para um dia ter razão.
(O Euromilhões hoje é a que horas? Ai hoje é quinta...)
(Então dê-me uma dessas raspadinhas, das que dá o Audi)
(Ai não tem cá... então... dê-me um chá de cidreira)
Improvável, duvidoso,
um jogo tão perigoso
Ter um 7 e um 2, não ter medo de arriscar.
Improvável, imaturo,
desafiar o teu futuro
Se perder este duelo, vou continuar a jogar!
O totoloto há de sair a alguém
Porque não a mim também?
Improvável, duvidoso,
um jogo tão perigoso
Ter um 7 e um 2, não ter medo de arriscar.
Improvável, imaturo,
desafiar o teu futuro
Se perder este duelo, vou continuar a jogar!
Improvável, duvidoso,
um jogo tão perigoso
Ter um 7 e um 2, não ter medo de arriscar.
Improvável, imaturo,
desafiar o teu futuro
Se perder este duelo, vou continuar a jogar!

 

 

Este é o nosso triste fado
Do vamos andando e do pobre coitado
Velha canção em que a culpa é do estado
Por ser o espelho do reinado

 

A história por mais do que uma vez
Foi mais cruel que a de Pedro e Inês
Levou-nos o que tanta falta nos fez
Sem deixar razões ou porquês

 

Temos fuga ao fisco estradas de alto risco
Temos valiosos costumes e tradições
Que eu não percebo se nos maldizemos
Quais as razões

 

Temos Chico espertos burlas e protestos
Temos tantos motivos para sorrir
Que eu nem imagino qual será a desculpa
Que vem a seguir

 

Gosto tanto deste país
Só não entendo o que o faz feliz
Se é rir da miséria de outros quando a vemos
Ou chorar da nossa própria quando a temos

 

Gosto tanto deste país
Só não entendo quando ele se diz
Senhor do futuro maduro duro mas seguro
E eu juro que ainda não o vi

 

Os queixumes, sei-os de cor
Endereçados a nosso senhor
Intercalados com suspiro ou dor
De um bom sofredor

 

Dentro de momentos seguem-se os lamentos
Não há dinheiro para os medicamentos
Não há dinheiro para tanto sustento
Tão longe vão outros tempos

 

Gosto tanto deste país
Só não entendo o que o faz feliz
Se é rir da miséria de outros quando a vemos
Ou chorar da nossa própria quando a temos

 

Gosto tanto deste país
Só não entendo quando ele se diz
Senhor do futuro maduro duro mas seguro
Eu juro que ainda não o vi

 

 

Sou imune ao teu charme
Excepto quando te ris
Excepto quando me olhas
E engelhas o nariz
Sou imune ao teu charme
Excepto quando te vejo
Mas se tu estiveres quieta
Lá bem longe, não me afecta
Eu controlo o meu desejo
Já longe vão os dias
Em que as tuas manias
Me tiravam do sério
Porque hoje eu
Sou imune ao teu charme
Já deu bem p'ra perceber
Desde que não apareças
Nem respires ou te mexas
Eu consigo te esquecer
Desde que não apareças
Nem respires ou te mexas
Eu consigo te esquecer
Sou imune ao teu charme
Excepto quando te ris
Excepto quando me olhas
E engelhas o nariz
Sou imune ao teu charme
Excepto quando te vejo
Mas se tu estiveres quieta
Lá bem longe, não me afecta
Eu controlo o meu desejo
Já longe vão os dias
Em que as tuas manias
Me tiravam do sério
Porque hoje eu
Sou imune ao teu charme
Já deu bem p'ra perceber
Desde que não apareças
Nem respires ou te mexas
Eu consigo te esquecer
Desde que não apareças
Nem respires ou te mexas
Eu consigo te esquecer
Desde que não apareças
Nem respires ou te mexas
Eu consigo te esquecer

 


Apontar é feio, no disco em dueto com Jorge Palma

 

Trouxeste o olhar baço
Entre a tristeza e o cansaço
Dizes tudo aquilo que eu já sei
Errei, mas eu também
Não prometi a ninguém
Ser eternamente a solução

Esqueceste a compaixão
Há pouco espaço pra perdão
Nem sei como to pedir
Tremeu a tua voz,
a oscilar entre o ficar e ir,
E a seguir

Tu chamaste-me traidor,
Mas nem me importa esse teu dedo acusador
Pois sem rodeios,
Sei bem que apontar é feio mas
Desapontar-te é pior

Perdeu-se o nosso espaço,
Agora entregue ao embaraço
Mordeste o lábio, deste um passo atrás
Caminhas contrafeita,
Como quem chama e rejeita
No teu jeito inocente de querer paz

Ficámos sem guião,
Neste jogo de abrir mão
Em que se um desistir o outro perde
E eu sinto-me tão mal,
Quem em mim a culpa corre e ferve,
De nada serve
Tu chamaste-me traidor
Mas nem me importa esse teu dedo acusador
Pois sem rodeios
Sei bem que apontar é feio mas
Desapontar-te é pior
Tu chamaste-me traidor
Mas nem me importa esse teu dedo acusador
Pois sem rodeios
Sei bem que apontar é feio mas
Desapontar-te é pior
Desapontar-te é pior

 


Há sempre qualquer coisa (no álbum, com Luísa Sobral)

 

Sempre uma questão,
Eu sei que é sempre uma questão
De qualquer coisa,
De tempo, de cansaço ou embaraço,
Ou outro peso qualquer.
E de temer a dor que nele existe,
Cantamos o amor num canto triste
Que embala o coração num jeito de
Não querer bater.

 

Sempre uma questão,
Eu sei que é sempre uma questão
De qualquer coisa,
De anseios, incertezas ou receios
Que nos fazem desistir.
E de fugir à dor que tanto arrasta,
Fazemos do amor canção madrasta,
Prelúdio de um sono sem sonhos
Fácil de dormir

 

Se eu acordar já,
Sem chorar,
Sem temer,
Talvez possa esquecer,
Talvez saiba sorrir.
Se eu acordar já,
Sem este ar
Derrotado,
Talvez vença a teu lado
O temor de existir.

 

Sempre uma questão,
Eu sei que é sempre uma questão
De anseios, incertezas ou receios.
E de fugir à dor que tanto arrasta.
Prelúdio de um sono sem sonhos
Fácil de dormir.

 

Se eu acordar já,
Sem chorar,
Sem temer,
Talvez possa esquecer,
Talvez saiba sorrir.
Se eu acordar já,
Sem este ar
Derrotado,
Talvez vença a teu lado
O temor de existir.

 

Mas se eu acordar já,
Sem chorar,
Sem temer,
Talvez possa esquecer,
Talvez tenha outro olhar.
Mas se eu acordar já,
Sem este ar
Derrotado,
Talvez vença a teu lado
O meu medo de amar.

 

 

Mostra-me o mundo pelo teu olhar
Que o meu está gasto
E eu estou tão cansado

 

(...)

 

Quem diria que afinal
O mundo não me tinha esquecido?
E depois do vendaval
No fim do arco-íris
O ouro prometido

 

 

Ei eu tentei não mudar
Deixar que tudo fosse igual
Lembrar-me que há pior e estava bem no menos mal
Mas ele há usos e abusos que não podem continuar
Que a gente vai enchendo até um dia rebentar

 

(Mais, mais, sempre mais, tu queres sempre mais)
Mas que mal é que tem querermos o melhor para nós
(Mais, mais, sempre mais, tu queres sempre mais)
Será que cai o mundo ao levantar um pouco a voz

 

Não temos que marchar contra os canhões
Basta gritarmos a plenos pulmões
Entre as brumas da memória, ergue-se a mesma história e repetições
Deste nobre povo
Se o discurso não é novo que o sejam acções
Tragam-me o livro, tragam-me o livro, tragam-me o livro de reclamações
Tragam-me o livro, tragam-me o livro, tragam-me o livro de reclamações

 

Tou? Não, não, isso é com a minha colega
Do guichê 4, que só volta amanhã, está bom?
(Mais, mais, sempre mais, tu queres sempre mais)
Tão mas a senhora está-me a pedir isso para sexta-feira às 4 da tarde?
(Mais, mais, sempre mais, tu queres sempre mais)
Tch, isso agora mete-se o natal, só lá para Fevereiro

 

Não temos que marchar contra os canhões, basta gritarmos a plenos pulmões
Entre as brumas da memória, ergue-se a mesma história e repetições
Deste nobre povo, se o discurso não é novo que o sejam acções
Tragam-me o livro, tragam-me o livro, tragam-me o livro de reclamações
Tragam-me o livro, tragam-me o livro, tragam-me o livro de reclamações

 

Eu já vejo a nação, largar a ambição
Deixá-la correr, e já não vejo o luar
A esfera milenar que a fez renascer
Não sei esperar pelo fim, guardar
Só pra mim esta subversão
Eu não eu não
Tragam-me o livro, tragam-me o livro
Tragam-me o livro de reclamações
Tragam-me o livro, tragam-me o livro
Tragam-me o livro de reclamações

 

 

Caros amigos, com tristeza me despeço
Não julguei tão perto a hora do caminho bifurcar
Bem vos entendo
Mas é estranha a sensação
Em que a solidão é para quem ficar
Quero-vos bem
Sei ao que vão
Ia também
Se não fosse esta obrigação
De alimentar
A crença vã
De que o futuro ainda é amanhã
A minha casa acaba em Espanha
P'ra já ninguém me apanha
Fora dos terrenos onde trago o coração
Não passo de Vilar Formoso
Talvez por ser teimoso
Talvez por ter medo
Ou justamente porque não
À conta de negócios menos claros
Estão a vender o sítio onde vivi
Por escolha de alguns amigos caros
Adeus, caros amigos
Mas eu fico que ainda sou preciso aqui
Caros amigos
Eu cuido do nosso canto
Não deixo estragá-lo tanto
Que não queiram cá voltar
Eu rego a esperança
Levo a ambição à rua
Estendo o défice lá fora p'ra secar
Quero-vos bem
Sei ao que vão
Ia também
Se não fosse esta obrigação
De alimentar
A crença vã
De que o futuro ainda é amanhã
Mas se algum dia eu tiver de ir
Tranco a porta
E apago a luz quando sair
Fica a nação
Para alugar
Mas até lá vão ter que me aturar
A minha casa acaba em Espanha
P'ra já ninguém me apanha
Fora dos terrenos onde trago o coração
Não passo de Vilar Formoso
Talvez por ser teimoso
Talvez por ter medo
Ou justamente porque não
A minha casa ainda é esta
Ou o que dela resta
Podem levar tudo que não levam a raiz
E mesmo que esta casa caia
E tudo dela saia
Sei que do orgulho deste chão
Volta a nascer o meu país

 

 

Na estrada para ser feliz nunca quis mal a ninguém
Nesta vida já me chegam
bem os espinhos que ela tem
Mas lá calha ser ingrato e infantil
Por ter a cabeça a cem e o coração a mil
Não escolhemos quem nascemos mas escolhemos quem crescemos
E no muito que nós somos há tanto que nós não vemos
Percebemos só quando não estamos sós
Que o que nós nunca nos vemos os outros vêm em nós.

 

Egoístas altruístas, obsessivos compulsivos
corolários necessários desta coisa de estar vivos
E quebramos e choramos e afinal
encontramos tanta gente que é exactamente igual
Mas nem sempre isso nos chega para acalmar as tempestades
E a dureza da amargura é a mais dura das verdades
É esquisito mas funciona bem assim
Precisar que tu me ajudes a dar-te o melhor de mim

 

Precisar que tu me ajudes a dar-te o melhor de mim.

 

Na estrada para ser feliz eu confundo a direcção
E acelero em marcha-atrás até alguém me pôr a mão
Tem havido sempre essa força maior
Mas se algum dia ela falha, vai-se o carro e o condutor
Ainda assim não desisti de ir lançando o carro à estrada
Sonhei demais com a viagem para que ela não dê em nada

 

Se chegarem novas de que me perdi
Levo tanta coisa boa do pouco que percorri.

 

Não é certo que o meu corpo faça aquilo que eu digo
Nuns dias tenho coragem e nos outros não consigo
Se nos está nos genes deve ser genial
Um retoque bioquímico ao plano original
Tenho sorte nas pessoas que a vida me vai escolhendo
E se tenho algum problema é só porque não aprendo
Que a ninguém é entregue tudo o que quis
É tudo arrancado a ferros na estrada para ser feliz
Mas isto só faz sentido na estrada para ser feliz.

 

 

Vês passar o barco
rumando p’ró o sul
Brincando na proa
gostavas de estar

 

Voa lá no alto
por cima de ti
um grande falcão
és o rei és feliz

 

E quando tu
vês o Mississipi
tu saltas pela ponte
e voas com a mente

 

Nuvens de tormentas
Estão sobre ti
Corre agora corre
e te esconderás
entre aquelas plantas
ou te molharás

 

E sonharás
que és um pirata
tu... sobre uma fragata
tu... sempre à frente de um bom grupo
de raparigas e rapazes

 

Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer
junto ao rio a passear, Tom Sawyer
mil amigos deixarás, aqui e além
descobrir o mundo, viver aventuras

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